Através do uso de amostras de tecido de pacientes que já morreram, uma equipa de investigadores conseguiu desvendar os mecanismos pelos quais o coronavírus é capaz de chegar ao cérebro de pacientes com covid-19 e como é que o sistema imunológico responde ao vírus perante esta situação.
Depois de mais de dez meses a estudar a covid-19, os cientistas perceberam que, afinal, não estão a lidar com uma doença somente respiratória, relata o ABC.
Para além de afetar os pulmões, o vírus pode danificar o sistema cardiovascular, o sistema gastro-intestinal e o sistema nervoso central. Mais de 1 em cada 3 pacientes também sofrem de sintomas neurológicos, desde perda de peso a alterações no paladar ou olfato, dores de cabeça, cansaço, tonturas e náuseas. Em algumas pessoas, a doença pode levar a derrames cerebrais e outras doenças mais graves.
Neste sentido, vários especialistas estudaram amostras de tecido de 33 pacientes (com uma idade média de 72 anos) que morreram após contrair covid-19. Usando tecnologias recentes, os cientistas analisaram amostras retiradas da mucosa olfatória dos doentes falecidos, bem como de quatro regiões diferentes do cérebro.
A equipa encontrou evidências do vírus em diferentes estruturas neuroanatômicas que ligam os olhos, a boca e o nariz ao tronco cerebral. Contudo, foi na mucosa olfatória que se analisou maior carga viral.
“Os nossos dados sugerem que o SARS-CoV-2 é capaz de usar a mucosa olfatória como porta de entrada para o cérebro”, diz o professor Frank Heppner.
O pneumologista explica que “uma vez dentro da mucosa olfatória, o vírus parece usar conexões neuroanatômicas, como o nervo olfatório, para chegar ao cérebro. É importante notar, no entanto, que os pacientes com covid-19 envolvidos neste estudo tinham o que seria definido como doença grave, pertencendo ao pequeno grupo de pacientes nos quais a doença é fatal”.
Desta forma, o especialista alerta que não é necessariamente possível aplicar os resultados deste estudo para casos de pessoas com doença leve ou moderada.
Apesar disso, a forma como o vírus se move nas células nervosas ainda não foi totalmente esclarecida. Contudo, a também autora do estudo, Helena Radbruch explica que é provável que o vírus também seja transportado através dos vasos sanguíneos, visto que a sua presença também foi detetada nas paredes dos vasos sanguíneos cerebrais.
Os investigadores também estudaram de que forma o sistema imunológico responde à infeção por SARS-CoV-2. Além de encontrar evidências de células imunológicas ativadas no cérebro e na mucosa olfatória, detetaram também as assinaturas imunológicas dessas células no fluido cerebral.
https://zap.aeiou.pt/de-que-forma-coronavirus-afetar-cerebro-363427
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