Uma equipa de investigadores da Universidade de Berna, na Suíça, conseguiram demonstrar um forte arrefecimento local nos trópicos durante o último período glacial, com base nas flutuações dos glaciares e grandes riscas em pedras nas terras altas da Etiópia.
Como impulsionadores da circulação atmosférica e oceânica global, os trópicos desempenham um papel central na compreensão das mudanças climáticas passadas e futuras.
As simulações do clima global e as reconstruções da temperatura do oceano em todo o mundo indicam que o arrefecimento nos trópicos durante o último período glacial, que começou há cerca de 115 mil anos, foi muito mais fraco do que na zona temperada e nas regiões polares.
Contudo, a hipótese de isto se aplicar também às altas montanhas tropicais da África Oriental e noutros lugares é questionada com base em estudos paleoclimáticos, geológicos e ecológicos em altitudes elevadas.
Uma equipa de investigadores, liderada por Alexander Groos, Heinz Veit – ambos do Instituto de Geografia – e Naki Akçar – do Instituto de Ciências Geológicas – da Universidade de Berna, em colaboração com colegas da ETH Zurique, da Universidade de Marburg e da Universidade de Ankara, usou as Terras Altas da Etiópia como local de teste para investigar a extensão e o impacto do arrefecimento regional nas montanhas tropicais durante o último período glacial.
“As montanhas da Etiópia atualmente não estão cobertas por gelo, apesar da sua elevação de mais de quatro mil metros”, explicou Groos, em comunicado. “As morenas e outras formas de terra, no entanto, atestam o facto de que estas montanhas tinham gelo durante o último período glaciar”.
Pedregulhos de morena nas montanhas Bale e Arsi foram mapeados, amostrados no campo e posteriormente datados usando o isótopo de cloro 36Cl para determinar com precisão a extensão e o tempo das glaciações anteriores.
Os cientistas tiveram uma surpresa. “Os nossos resultados mostram que os glaciares nas montanhas do sul da Etiópia atingiram a sua extensão máxima há entre 40 mil e 30 mil anos, vários milhares de anos antes do que noutras regiões montanhosas na África Oriental e em todo o mundo”, explicou o Groos.
No total, os glaciares nas terras altas do sul cobriam uma área de mais de 350 quilómetros durante o seu máximo. Além do arrefecimento de pelo menos 4ºC a 6°C, os extensos planaltos vulcânicos acima de quatro mil metros favoreceram o desenvolvimento de glaciação nesta magnitude.
Os cientistas obtiveram perceções importantes comparando as flutuações dos glaciares nas Terras Altas da Etiópia com os das montanhas mais altas do Leste Africano e arquivos climáticos do Grande Vale do Rift Africano.
“As comparações cruzadas mostram que as montanhas tropicais na África Oriental sofreram um arrefecimento mais pronunciado do que as planícies circundantes”, concluiu Groos.
“Além disso, os resultados sugerem uma resposta não uniforme dos glaciares e calotas polares da África Oriental às mudanças climáticas durante o último período glacial, o que pode ser atribuído a diferenças regionais na distribuição da precipitação e relevo das montanhas, entre outros fatores”.
As estranhas “riscas” gigantes
Durante o trabalho de campo no planalto central de Sanetti, nas montanhas Bale, os cientistas também encontraram faixas de pedra gigantescas de até mil metros de comprimento, 15 de largura e dois de profundidade fora da área da antiga calota polar.
“A existência destas riscas de pedra num planalto tropical surpreendeu-nos, já que os chamados acidentes geográficos periglaciais dessa magnitude eram anteriormente conhecidos apenas na zona temperada e regiões polares e estão associados a temperaturas do solo em torno do ponto de congelamento“, disse Groos.
No entanto, a temperatura média do solo no Planalto Sanetti é de cerca de 11ºC.
As grandes rochas e colunas de basalto que compõem as faixas de pedra originalmente vieram de formações rochosas fortemente erodidas e tampões vulcânicos.
Os investigadores presumem que as faixas de pedra formaram-se durante o último período glacial atraves da classificação natural das rochas previamente distribuídas de forma caótica durante o congelamento e descongelamento periódico do solo próximo à antiga calota de gelo.
No entanto, isso teria exigido uma queda na temperatura média do solo de pelo menos 11°C e na temperatura média do ar de pelo menos 7°C.
Os investigadores alertam que esse eventual arrefecimento sem precedentes deve ser demonstrado por estudos futuros noutras regiões montanhosas tropicais.
https://zap.aeiou.pt/pedregulhos-e-misteriosas-riscas-gigantes-na-etiopia-desvendam-mis-388556
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