Não
me agrada quando tentam justificar todo tipo de comportamento humano
pela genética ou neurociência, principalmente quando as evidencias são
escassas. O caso do cérebro transgender cai nessa categoria e, para não
surpreender o leitor, aviso que esse é apenas o começo das pesquisas
nessa área.
Sabe-se que a identidade sexual tem origens
embrionárias, no balanço de certos neurotransmissores durante o
desenvolvimento neural. Cérebros masculinos e femininos são
anatomicamente e funcionalmente distintos. Na verdade, tudo é muito mais
fluido e menos polarizado. Alterações, por menores que sejam, nesse
período do desenvolvimento, têm como consequência um cérebro mais
feminino ou masculino.
Nosso cérebro é um espectro sexual, que
se revela mais feminino ou masculino em diversas situações. Na maioria
dos casos, o cérebro tende para um dos lados. Identidade sexual é mais
complexo do que sexo em si, o sistema binário de reprodução, aonde
produtores de esperma são considerados machos e de óvulos, fêmeas. No
sexo, qualquer situação não binaria, intermediária, seria menos
eficiente do ponto de vista evolutivo (existem exceções na natureza,
certas espécies de formigas possuem três ou até mesmos quatro tipos de
sexo). O mesmo não pode ser dito sobre a identidade sexual.
Mas qual seria a pressão evolutiva para esse espectro de identidade sexual é ainda um mistério. Pode ser que simplesmente não descobrimos ainda vantagens no cérebro transgender, pois nossa sociedade reprime qualquer identidade sexual que não condiz com o sexo do indivíduo. Talvez pessoas bi-gender tenham mais flexibilidade em situações que requerem ora a parte mais racional, ora a parte mais sensitiva, por exemplo. Por outro lado, esse espectro pode ser apenas consequência de um cérebro humano mais complexo. Simplesmente não sabemos.
Mas qual seria a pressão evolutiva para esse espectro de identidade sexual é ainda um mistério. Pode ser que simplesmente não descobrimos ainda vantagens no cérebro transgender, pois nossa sociedade reprime qualquer identidade sexual que não condiz com o sexo do indivíduo. Talvez pessoas bi-gender tenham mais flexibilidade em situações que requerem ora a parte mais racional, ora a parte mais sensitiva, por exemplo. Por outro lado, esse espectro pode ser apenas consequência de um cérebro humano mais complexo. Simplesmente não sabemos.
O
pouco que se sabe sobre o cérebro transgender vem de pesquisas feitas
com ressonância magnética, sugerindo sutis alterações estruturais no
córtex e em certas conexões nervosas. Um dos mecanismos propostos seria
através do BDNF (Brain-derived neurotrophic fator), um fator responsável
pela maturação de redes nervosas e que estaria alterado durante o
desenvolvimento do cérebro de pessoas com identidade transgender. Porém,
tratamentos experimentais com o objetivo de “curar” pessoas com crise
de identidade sexual baseado em modulação de BNDF não parecem muito
promissores até o momento.
O cérebro transgender é um assunto que
tem intrigado os neurocientistas por diversas décadas, mas nunca foi
estudado com rigor. O fenômeno em si não é novidade na ciência (existem
relatos até na Bíblia).
Recentemente, a mudança de sexo do medalista olímpico americano Bruce
Jenner (que agora se chama Caitlyn) tem causado alvoroço, em parte pelo
interesse (é o padrasto das Kardashians), mas principalmente porque
decidiu usar dessa exposição para dar voz a uma condição polêmica,que
atinge milhares de pessoas no mundo e que tem sido ignorada por muito
tempo.
A atitude de Bruce pode ter um impacto mundial, instigando a pesquisa
nessa área e contribuindo para uma melhor aceitação dos diversos tipos
de sexualidade humana. Se conseguir, Bruce vai ofuscar sua própria
imagem de medalhista olímpico ao mostrar que é possível viver duas vidas
com identidades sexuais diferentes.
Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/espiral/post/o-cerebro-transgender.html
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