Bernard Miller, Martin Pugh
Foi detetado oxigénio molecular (O2) numa galáxia a mais de 560
milhões de anos-luz em quantidades surpreendentes – 100 vezes superior à
nossa galáxia
Um grupo de astrónomos da Academia Chinesa de Ciências (CSA, na sigla
inglesa) anunciou ter encontrado, pela primeira vez, oxigénio molecular
fora da Via Láctea, na galáxia “Markarian 231” ou “UGC o8o58”
descoberta em 1969 e situada a mais de 560 milhões de anos-luz. Os
cientistas acreditam agora que este estudo, publicado no The
Astrophysical Journal, pode ajudar a ciência a compreender o papel
crucial do oxigénio na história da evolução dos planetas, estrelas,
galáxias e da própria vida.
Na verdade, o oxigénio é o terceiro elemento mais abundante
no universo, depois do hidrogénio e do hélio, e é uma das moléculas mais
importantes para a vida na Terra, presente não apenas no ar, mas também
na água. No entanto, nem só de oxigénio é feito a água e o ar que
respiramos. Por exemplo, de cada vez que bebemos um copo de água estamos
a ingerir hidrogénio (H) que se formou há centenas de milhares de anos
depois do Big Bang, para além do oxigénio que completa esta receita
(H2O) e cuja origem é mais recente (100 milhões de anos), tendo
formado-se a partir de reações de fusão nuclear das estrelas.
Graças a esse incansável trabalho das estrelas, o oxigénio é o
terceiro elemento mais abundante no universo e, por isso, há décadas que
os cientistas lutam para encontrar este elemento num espeço mais amplo
do cosmos. Por isso mesmo, as regiões interestelares, onde se formam as
nuvens moleculares, são regiões propícias à concentração de O2.
No entanto, até agora os cientistas só descobriram a presença desta
molécula no sistema solar e em dois outros pontos da nossa galáxia,
nomeadamente na Nublosa de Orión e de Rho Ophiuchi, que estão
respetivamente a 350 e 1.344 anos-luz da Terra.
A equipa liderada por Junzhi Wang, do Observatório Astronómico de
Xangai, descobriu pela primeira vez oxigénio molecular numa galáxia fora
da Via Láctea, no quasar mais próximo do sistema solar – uma fonte
poderosamente energética com um núcleo galáctico ativo – onde os
cientistas acreditam que a radiação libertada pelo coração da “Markarian
231” é capaz conter oxigénio.
Estes resultados foram captados pelos telescópios terrestes do
observatório de Xangai a partir de comprimentos de onda emitidos pela
galáxia. Além disso, os dados registados por este estudo apontam para
quantidades enormes deste elemento – cerca de 100 vezes superior ao
hidrogénio molecular encontrado nos últimos registos da presença de
oxigénio dentro da Via Láctea. E a razão parece simples: a poderosa
atividade da galáxia, capaz de produzir vários milhões de estrelas, é
responsável por emitir radiação que obriga as nuvens moleculares – do
espaço interestelar – a libertarem oxigénio.
A confirmarem-se estas conclusões, o trabalho de investigação da
equipa de Junzhi Wang poderá servir de inspiração para futuras
investigações sobre o papel do oxigénio molecular nas galáxias e na
formação de novas estrela.
Fonte: https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2020-02-25-pela-primeira-vez-cientistas-encontraram-oxigenio-respiravel-noutra-galaxia/
Sem comentários:
Enviar um comentário