O conceito de ‘predadores prudentes’ defende que os animais evoluem para não caçarem tanto que extinguem as suas presas e eventualmente acabam também por se extinguir por não terem mais comida.
Há pelo menos 2400 anos que as pessoas têm tentado entender como os predadores e as presas se mantém equilibrados nos ecossistemas do nosso planeta. O autor grego Heródoto até levantou a questão da sua dissertação histórica “Histórias”, escrita por volta de 430 A.C.
Quando Charles Darwin publicou a sua revolucionária teoria da evolução em 1859 na ‘Origem das Espécies’, isto levantou um pergunta ainda mais difícil — por que é que os predadores não evoluem para se tornarem tão agressivos que comem todas as presas e se tornam extintos?
Desde então que os cientistas duvidam se é possível que o processo da evolução crie ‘predadores prudentes‘ capazes de evitarem a extinção das suas próprias presas. O ecologista americano Lawrence Slobodkin propôs a ideia da predação prudente em 1960, mas foi fortemente criticado por biólogos evolucionários.
Talvez devido à influência do sentimento anti-comunista ligado à guerra fria entre a União Soviética e os EUA, os biólogos argumentaram que a predação prudente requeria que evolução agisse em grupo e não em indivíduos de uma espécie — e essa ‘seleção em grupo’ era improvável.
Apesar da teoria moderna da evolução ter ultrapassado esta dicotomia entre a seleção individual e em grupo, o ceticismo sobre a segunda opção — e sobre a predação prudente — mantém-se entre muitos cientistas.
No entanto, num estudo recente publicado na Ecology Letters, os autores mostram — usando modelos complexos de predador-presa — como este equilíbrio delicado entre predador e presa pode ter evoluído.
A predação prudente significa que a espécie de predador evoluiu para evitar consumir em demasia e tão agressivamente como os seus próprios limites físicos permitem. Efetivamente, apesar de sem terem a consciência, os predadores prudentes estão a restringir-se para o benefício de outros membros da sua espécie, assim como para as gerações futuras.
Mesmo quando os predadores são prudentes no seu habitat natural, podem explorar em demasia as presas à sua volta se forem levados para lugares onde não pertencem. Um exemplo é o peixe-leão indo-pacífico, cujas populações têm rapidamente expandido dentro e à volta do Golfo do México e no leste do Mar Mediterrâneo.
O peixe-leão alimenta-se de peixes mais pequenos e de marisco que vive nos recifes. É um predador tão feroz que os ecologistas preocuparam-se que, especialmente no Golfo do México, poucas outras espécies de peixe sobrevivem-se perante a sua presença. No entanto, aconteceu outra coisa.
As populações de peixe-leão começaram a cair subitamente nos recifes do Golfo do México, enquanto que os seus competidores nativos continuaram. Aparentemente, porque os peixes-leão sobre-exploraram as suas presas, não são competidores assim tão fortes.
Estas populações em queda de peixe-leão estão assim a experienciar a pressão evolutiva para se alimentarem menos ferozmente, para que possam ocupar os recifes durante mais tempo e ter mais oportunidades de se espalharem para outros recifes. Eventualmente, espera-se que eles se adaptem ao seu novo habitat ao tornarem-se predadores prudentes.
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As implicações
Há mais para se aprender disto do que só ecologia. Nas sociedades ocidentais modernas, há uma ideia estabelecida de que a busca de benefícios pessoais de cada indivíduo vai ultimamente beneficiar a sociedade num todo. Por exemplo, espera-se que os CEOs de corporações públicas ajam apenas ara o benefício dos acionistas. Não vão apoiar um competidor no mercador, mesmo que a perda do competidor se traduza em menos escolhas para os consumidores.
Esta linha de pensamento baseia-se numa analogia entre a economia de mercado e a evolução, com ambas a depender na sobrevivência dos mais aptos — um princípio em que as variantes de um gene, espécie, modelo de negócio ou tecnologia que estão melhor adaptadas às circunstâncias atuais vão prevalecer, e as restantes vão morrer.
A predação prudente também segue o princípio da sobrevivência dos mais aptos. No entanto, o organismo mais apto não é aquele que é capaz de produzir o maior número de descendentes sobreviventes. Em vez disso, é aquele que tem sucesso na geração do maior número de novas colónias.
As colónias de espécies que sobre-exploram os seus recursos não são aptas neste sentido, porque entram em colapso antes de terem a oportunidade de se espalharem para outros lugares. No passado, quando as sociedades não estavam ligadas globalmente, princípios semelhantes aplicaram-se às escolhas humanas. As sociedades que sobre-exploram os seus recursos eventualmente entravam em colapso, dando espaço para que sociedades mais prudentes se expandissem.
No entanto, no mundo globalizado atual, as ações imprudentes das pessoas num lugar podem prejudicar pessoas num lugar completamente diferente.
O mecanismo pelo qual a sobrevivência do mais apto traz a prudência não pode assim funcionar durante mais tempo. A analogia com a natureza destruiu-se. Já não pode suportar a crença de que a busca pelos benefícios indivíduos vai ultimamente levar ao equilíbrio na sociedade e na economia.
https://zap.aeiou.pt/animais-esgotarem-recursos-humanos-465793
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