quinta-feira, 10 de março de 2022

Os humanos daqui a 10 mil anos - Apenas mais altos ou uma nova espécie ?

Se os seres humanos não morrerem num apocalipse climática ou com o impacto de um asteroide nos próximos 10 mil anos, é possível que evoluamos para uma espécie mais avançada do que a que somos atualmente?

É difícil prever o futuro, e o mundo provavelmente vai mudar de formas inimagináveis, segundo o The Conversation. Mas podemos fazer previsões informadas.

É provável que vivamos mais tempo e que nos tornemos mais altos e mais magros. Provavelmente seremos menos agressivos e mais agradáveis, mas teremos cérebros mais pequenos.

A melhor forma de prever o futuro é olhar para o passado, supondo que essas tendências continuarão a avançar, o que sugere algumas ideias surpreendentes sobre o nosso futuro.
O fim da seleção natural

Alguns cientistas têm defendido que a ascensão da civilização pôs fim à seleção natural. É verdade que as características seletivas que dominaram no passado — predadores, fome, peste, guerra — desapareceram na sua maioria.

A fome terminou, em grande parte, com a agricultura de alto rendimento, fertilizantes, e planeamento familiar e os predadores estão em perigo de extinção ou extintos.

As pragas que mataram milhões foram “domesticadas” com vacinas, antibióticos, ou água limpa. Mas a evolução não parou, tem apenas outros impulsos.

Ainda precisamos de encontrar parceiros e criar filhos, pelo que a seleção sexual desempenha agora um papel maior na nossa evolução.

Estamos também a enfrentar novas pressões seletivas, tais como a redução da mortalidade. Estamos a tornar-nos uma espécie de macaco domesticado — um macaco domesticado por nós próprios.
Viveremos mais tempo

A evolução dos seres humanos caminha em direção a uma esperança média de vida cada vez maior. Os ciclos de vida evoluem em resposta às taxas de mortalidade.

Quando as taxas de mortalidade são elevadas, os animais reproduzem-se mais cedo, ou podem não se reproduzir de todo. Mas, quando as taxas de mortalidade são baixas, acontece o oposto. Assim, os animais com poucos predadores evoluem e vivem mais tempo.

Nos últimos dois séculos, uma melhor nutrição, medicina e higiene reduziram a mortalidade jovem a menos de um por cento na maioria das nações desenvolvidas.

A esperança de vida subiu para 70 anos em todo o mundo, e 80 nos países mais desenvolvidos — devido à melhoria da saúde, não à evolução. Mas esta tendência mas preparou o terreno para a evolução, no sentido de prolongar a nossa esperança de vida.

Os nossos genes podem evoluir até atingir o limiar da esperança média de vida aos 100 anos, ou até mais.

Há 300 mil anos, havia 9 espécies humanas; agora somos só nós. Poderá surgir uma nova espécie humana?

Mais altos, menos músculos

Os animais evoluem, normalmente, em tamanho, crescendo cada vez mais ao longo do tempo. É uma tendência observada nos tiranossauros, baleias, cavalos e primatas, entre os quais os hominídeos.

Os primeiros hominídeos eram pequenos, tinham cerca de 120 centímetros a 150 centímetros de altura. Já o Homo Erectus, o Neandertais e o Homo Sapiens aumentaram em tamanho.

Continuámos a aumentar em altura, em parte impulsionados por uma melhor nutrição, mas os genes também parecem estar a evoluir.

O porquê de termos crescido não é claro. Em parte, o crescimento leva tempo, pelo que vidas mais longas significam mais tempo para crescer.

Mas as fêmeas humanas também preferem machos altos. Assim, tanto a mortalidade mais baixa como as preferências sexuais provavelmente farão com que os humanos fiquem mais altos.

Os seres humanos também reduziram os músculos, em comparação com outros macacos. À medida que

Os nossos maxilares e dentes também ficarão mais pequenos, e provavelmente perderemos os nossos dentes do siso, no futuro.

Mais atraentes, menos interessantes

Depois de os humanos terem deixado África, há 100 mil anos, as suas tribos ficaram isoladas em desertos, oceanos, montanhas, glaciares, e pura distância.

Em várias partes do mundo, diferentes características seletivas fizeram com que a nossa aparência evoluísse de formas diferentes.

As tribos evoluíram em termos de cor de pele, olhos, cabelo, e outro tipo de características faciais. Com a ascensão da civilização e as novas tecnologias, estas populações voltaram a estar ligadas.

Assim, criou-se um mundo de híbridos: pele castanha clara, cabelo escuro, Afro-Euro-Australo-Americo-Asiáticos, com a cor da pele e características faciais a tender para uma média global. Os humanos podem tornar-se mais atraentes, mas com uma aparência mais uniforme.

Cérebro mais pequeno

Por último, os nossos cérebros e mentes, a nossa característica mais humana, irá evoluir, talvez dramaticamente.

Durante os últimos seis milhões de anos, o tamanho do cérebro do hominídeo triplicou, aproximadamente, sugerindo a seleção de cérebros grandes, impulsionados pelo uso de ferramentas, sociedades complexas, e linguagem.

Esta tendência pode parecer inevitável, mas provavelmente não o é. Em vez disso, os nossos cérebros estão a ficar mais pequenos.

Os humanos modernos têm cérebros mais pequenos do que os antecessores, ou mesmo do que pessoas medievais, e não é claro porquê.

Mas o tamanho do cérebro não é tudo: elefantes e orcas têm cérebros maiores do que nós, e o cérebro de Einstein era mais pequeno do que a média.

Menos brilhantes

As nossas personalidades também evoluíram e devem continuar a fazê-lo. A vida dos caçadores-coletores, por exemplo, exigia agressão.

A agressão, agora um traço mal adaptado, poderia ser reproduzida. A mudança de padrões sociais também irá mudar as personalidades.

Nem todos estão psicologicamente bem adaptados a esta existência. A sociedade moderna satisfaz bem as nossas necessidades materiais, mas é menos capaz de satisfazer as necessidades psicológicas dos nossos cérebros primitivos de homens das cavernas.

As mentes perturbadas serão removidas do património genético, talvez à custa de eliminar o “tipo de faísca” que criou líderes visionários, grandes escritores, artistas, e músicos, entre outros.

Uma nova espécie?

Há 300 mil anos, havia 9 espécies humanas; agora somos só nós. Mas é possível que surjam novas espécies humanas?

A distância já não nos isola, mas o isolamento reprodutivo podia ser alcançado através do acasalamento seletivo e da segregação cultural. Assim, populações distintas, mesmo espécies diferentes, poderiam evoluir.

Em The Time Machine, o romancista de ficção científica HG Wells viu um futuro onde a classe humana criou espécies distintas.

As classes superiores evoluíram para o belo mas inútil Eloi, e as classes trabalhadoras tornaram-se os Morlocks feios, subterrâneos, que se revoltaram e escravizaram os Eloi.

Estranhas e novas possibilidades

Em alguns aspetos, o futuro pode ser radicalmente diferente do passado. A própria evolução tem evoluído.

Uma das possibilidades mais extremas é a evolução dirigida, onde controlamos ativamente a evolução da nossa espécie. Já nos podemos examinar a nós próprios e aos embriões para detetar doenças genéticas, por exemplo. Poderíamos escolher embriões para genes mais desejáveis, tal como fazemos com a agricultura.

A edição direta do ADN de um embrião humano foi provada como sendo possível. Podemos estar a caminhar para um futuro em que apenas mau progenitor não daria aos seus filhos os melhores genes possíveis.

Isto pode parecer ficção científica um pouco sombria, mas já está a acontecer. E as partes mais interessantes da evolução não são as origens da vida, os dinossauros, ou  ou os Neandertais, mas o que está a acontecer neste momento — o nosso presente, e o nosso futuro.

https://zap.aeiou.pt/seres-humanos-daqui-a-10-mil-anos-nova-especie-466044

 

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