sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Três coisas que aprendemos com o InSight da NASA

A sonda InSight vai explorar o subsolo de Marte

O módulo InSight da NASA pousou em Marte no dia 26 de novembro de 2018 para estudar o interior profundo do planeta. Um pouco mais de um sol (ano marciano) depois, o “lander” estacionário detetou mais de 480 sismos e recolheu os dados meteorológicos mais abrangentes de qualquer missão enviada para a superfície de Marte. A sonda InSight, que tem lutado para cavar no subsolo a fim de medir a temperatura do planeta, também fez progressos.

As superfícies de Marte e da Terra já foram muito semelhantes. Ambas eram quentes, húmidas e envoltas em atmosferas densas. Mas, há três ou quatro mil milhões de anos, estes dois mundos seguiram caminhos diferentes.

A missão do InSight (Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) consiste em ajudar os cientistas a comparar a Terra com o seu irmão enferrujado.

O estudo da composição interior de Marte, de como esse material está dividido em camadas e da rapidez com que o calor escapa, pode ajudar os cientistas a melhor entender como os materiais iniciais de um planeta o tornam mais ou menos propenso a sustentar vida. Aqui ficam três descobertas sobre o nosso vizinho vermelho no céu.

Fracos “murmúrios” são a norma

O sismómetro do InSight, fornecido pela agência espacial francesa CNES (Centre National d’Études Spatiales), é sensível o suficiente para detetar pequenos ruídos vindos de grandes distâncias. Mas só em abril de 2019 é que os sismólogos do Serviço Marsquake, em coordenação com o ETH Zurique, detetaram o seu primeiro sismo marciano.

Desde então, Marte mais do que compensou o tempo perdido, tremendo frequente, embora suavemente, sem sismos maiores que magnitude 3,7.

A ausência de sismos com magnitude superior a 4 representa um mistério, tendo em conta a frequência com que o Planeta Vermelho treme devido a sismos mais pequenos.

“É um pouco surpreendente não termos visto um evento maior,” disse o sismólogo Mark Panning do JPL da NASA no sul da Califórnia, que lidera a missão InSight. “Isto pode estar a dizer-nos algo sobre Marte, ou pode estar a dizer-nos algo sobre a nossa sorte.”

Posto de outra forma: talvez Marte seja mais estático do que o previsto – ou talvez o InSight tenha pousado durante um período especialmente calmo.

Os sismólogos terão que esperar pacientemente por estes sismos maiores a fim de estudar as camadas por baixo da crosta. “Às vezes recebemos grandes flashes de informações surpreendentes, mas na maioria das vezes são meras ‘migalhas’,” disse Bruce Banerdt do JPL, investigador principal do InSight. “É mais como tentar seguir uma trilha de pistas complicadas do que termos as respostas apresentadas num presente bem enfeitado.”

O vento pode esconder sismos

Assim que o InSight começou a detetar sismos, estes tornaram-se tão regulares que, a determinado ponto, aconteciam todos os dias. Então, no final de junho deste ano, as deteções essencialmente pararam. Desde então foram apenas detetados cinco sismos, todos eles desde setembro.

Os cientistas pensam que o vento de Marte é responsável por estes períodos sismicamente vazios: o planeta entrou na sua estação mais ventosa do ano marciano por volta de junho. A missão sabia que os ventos podem afetar o sismómetro sensível do InSight, que está equipado com uma cúpula contra o vento e com um escudo de calor. Mas o vento ainda sacode o próprio solo e cria um ruído literal que esconde os sismos.

Isto pode também ter contribuído para o que parece ser o longo silêncio sísmico antes da primeira deteção do InSight, já que o módulo pousou enquanto uma tempestade regional de poeira estava a assentar.

“Antes do pouso, tivemos que adivinhar como o vento afetaria as vibrações da superfície,” disse Banerdt. “Como estamos a trabalhar com eventos que são bem menores do que os eventos a que prestaríamos atenção na Terra, descobrimos que temos que prestar muito mais atenção ao vento.”

Não existem ondas de superfície

Todos os sismos têm dois conjuntos de ondas, que viajam pelo interior do planeta: ondas primárias (ondas P) e ondas secundárias (ondas S). Também se propagam ao longo do topo da crosta como parte de uma terceira categoria, chamadas ondas de superfície.

Na Terra, os sismólogos usam as ondas de superfície para aprender mais sobre a estrutura interna do planeta. Antes de chegar a Marte, os sismólogos do InSight esperavam que estas ondas fornecessem vislumbres de até 400 km do interior, até uma camada subcrustal chamada manto. Mas Marte continua a fornecer mistérios: apesar das centenas de sismos, nenhum incluiu ondas de superfície.

“Não é totalmente invulgar ter sismos sem ondas de superfície, mas foi uma surpresa,” disse Panning. “Por exemplo, não conseguimos ver ondas de superfície na Lua. Mas isso é porque a Lua tem muito mais dispersão do que Marte.”

A crosta lunar seca é mais fraturada do que a Terra e Marte, fazendo com que as ondas sísmicas saltem num padrão mais difuso que pode durar mais de uma hora.

A ausência de ondas de superfície em Marte pode estar ligada a extensas fraturas nos primeiros 10 km abaixo do InSight ou que os sismos detetados pelo InSight vêm das profundezas do planeta, já que estes não produziriam ondas de superfície fortes.

https://zap.aeiou.pt/tres-coisas-aprendemos-insight-da-nasa-368034

 

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