Uma equipa de investigadores dos Observatórios de Yunnan da Academia Chinesa de Ciências pode ter descoberto a forma como ocorre a transferência de massa entre estrelas em sistemas binários.
Existe um grupo de pares variáveis de estrelas conhecidos como binários do tipo Algol, sendo batizadas em honra do membro protótipo desta classe: Algol, um sistema de estrelas múltiplas brilhante na constelação de Perseus.
Nesses pares estelares, a estrela que era originalmente mais brilhante, mais massiva e mais evoluída acaba por ficar mais escura e mais leve, despojada de material pela sua companheira.
Este mesquinho conto de roubos tem muitas incertezas, mas um novo estudo sugere vários fenómenos que podem explicar como ocorre a transferência de massa entre as estrelas.
Uma equipa de investigadores dos Observatórios de Yunnan da Academia Chinesa de Ciências estudaram o sistema binário KIC 06852488. As propriedades peculiares deste sistema podem ser o modelo de como as variáveis Algol funcionam.
KIC 06852488 é constituído por um componente primário que é pulsante e um componente secundário com um campo magnético muito forte. Usando os dados do Kepler e do Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) da NASA, a equipa rastreou as mudanças no brilho das duas estrelas.
Segundo os investigadores, o sistema parece experimentar o efeito O’Connell. À medida que as duas estrelas se orbitam uma à outra, periodicamente passam uma à frente da outra. Isto é algo que é possível rastrear facilmente com o perfil de brilho – a curva de luz -, e devem ficar igualmente brilhantes nos dois períodos na sua órbita quando estão lado a lado. Porém, uma dessas regiões lado a lado é muito mais brilhante do que a outra – e é esse o efeito O’Connell.
“A variação do efeito O’Connell pode ser explicada por um ponto quente em evolução no componente primário e um ponto frio em evolução no componente secundário e as suas posições são quase simétricas com o ponto L1 interno de Lagrange”, disse o co-autor do estudo Sheng-bang Qian, em comunicado.
O ponto L1 é a área onde a atração gravitacional entre os dois objetos é equilibrada, no ponto em que as duas estrelas estão frente a frente. As manchas solares estão relacionadas com a atividade magnética do Sol – e essas manchas estelares provavelmente estão relacionadas com a atividade magnética, bem como com a atração gravitacional das estrelas umas sobre as outras.
A equipa também relata a deteção de seis erupções óticas da estrela secundária, todos na classe de energia das supererupções – outra indicação importante de atividade magnética.
A estrela secundária está inflamada, enchendo quase completamente o seu lóbulo Roche, a região onde a sua gravidade reina. Se o material ultrapassar o lóbulo da Roche, será capturado pela sua companheira.
As ferupções, pulsação de componente, transferência de massa e atividade pontual tornam o sistema um “laboratório de astrofísica natural” para estudar a interação de transferência de massa binária, pulsação estelar e atividade magnética.
Este estudo foi publicado em dezembro na revista científica The Astronomical Journal.
https://zap.aeiou.pt/algumas-estrelas-binarias-podem-roubam-umas-as-outras-370798
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