sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Os hipopótamos de Pablo Escobar estão a ameaçar a biodiversidade e podem ser abatidos !

Os hipopótamos importados ilegalmente para a Colômbia para o jardim zoológico privado de Pablo Escobar tornaram-se selvagens, multiplicaram-se e neste momento representam uma grave ameaça para a fauna e flora da região.


Uma das grandes extravagâncias do icónico narcotraficante foi reunir hipopótamos, cangurus, girafas, elefantes e outros animais exóticos na sua fortaleza, a famosa Hacienda Napoles, onde, na década de 1980, criou o maior império de cocaína do mundo.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, quando Pablo Escobar foi apanhado e morto pela polícia em 1993, muitos dos seus animais foram presos ou morreram.

Mas os hipopótamos foram simplesmente abandonados na propriedade, por causa dos custos e problemas logísticos associados ao seu transporte, bem como devido à violência que assolava aquela zona na altura.

Desde então, o governo procurou controlar a sua reprodução mas não foi bem sucedido – o crescimento populacional continuou e, nos últimos oito anos, os animais passaram de 35 para entre 65 e 80.

Agora, um grupo de cientistas da Universidade de Quintana Roo, no México, avisa que estes hipopótamos começam a ser uma grande ameaça à biodiversidade, podendo dar origem a encontros muito perigosos, e potencialmente mortais, com humanos.

A equipa, que tem vindo a acompanhar a situação, diz que os animais devem ser abatidos porque, caso não haja controlo, em 2035 pode haver mais de 1.500 hipopótamos selvagens nesta zona da Colômbia.

“Acredito que seja um dos maiores desafios das espécies invasoras no mundo”, disse Nataly Castelblanco-Martínez, ecologista da Universidade de Quintana Roo e principal autora do estudo.

Mas a ideia de abater este conjunto de animais já foi alvo de várias críticas. Há uns anos, a população local adotou os animais como se fossem seus – em parte por causa do dinheiro vindo de turistas que visitam a região para os ver -, depois de três hipopótamos escaparem do complexo de Escobar e um ter acabado por ser abatido por caçadores.

O estudo, publicado em janeiro na revista Biological Conservation, surgiu em 2020 depois de um dos animais atacar um agricultor das redondezas, ferindo-o gravemente.

Mas outro artigo, realizado por investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, revelou recentemente que a presença dos hipopótamos está a alterar a qualidade da água desta zona. Isto porque passam lá grande parte do tempo e acabam por lá defecar também, realidade que afeta diretamente a biodiversidade da região.

Estes animais, conhecidos como os “hipopótamos de Escobar”, vivem na área em redor do Rio Magdalena, entre Medellín e Bogotá. Mas, ao contrário de África, de onde são nativos, na Colômbia não encontram predadores naturais – o que pode ser um problema.

“Há cerca de 10 anos, percebemos que temos uma população gigante de hipopótamos. Começamos a perceber como a população era constituída, para ver se havia uma solução imediata”, disse David Echeverri-Lopez, investigador da agência ambiental regional que supervisiona os hipopótamos.

Embora Echeverri concorde que o abate dos hipopótamos seria a melhor solução, explicou que a “personalidade magnética” dos animais e a proibição governamental de os caçar complicam a questão.

O governo colombiano equacionou a hipótese de esterilizar os animais para resolver o problema. E chegou a fazê-lo em alguns animais. No entanto, esse é um processo dispendioso e complicado: primeiro, o hipopótamo tem de entrar para uma enorme jaula de metal e ser sedado; depois são necessárias cerca de três horas para cortar a sua pele espessa e encontrar os órgãos reprodutivos.

“A comunidade ficava de olho em nós para ter certeza de que estávamos realmente a esterilizar [o hipopótamo], e não a fazer outra coisa qualquer”, disse Gina Serna-Trujillo, a veterinária que conduziu algumas das esterilizações.

Castelblanco entende o porquê de aqueles animais serem adorados pela população local, descrevendo um hipopótamo bebé como “a coisa mais linda do mundo”. Mas alerta que o futuro dos animais não deve ser decidido com base em sentimentos.

https://zap.aeiou.pt/hipopotamos-escobar-biodiversidade-380009

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