Uma equipa de cientistas identificou os genes associados à sobrevivência das plantas num dos ambientes mais hostis do planeta: o deserto do Atacama, no Chile.
O deserto do Atacama, no Chile, é um lugar hostil. Aliás, não é por acaso que é conhecido por ser o deserto não-polar mais seco do planeta Terra. Ainda assim, apesar de todas as adversidades, a vida sobrevive nestas terras áridas.
Desvendar o segredo por detrás deste sucesso improvável é mais importante do que nunca, já que poderia ajudar os humanos a cultivar alimentos em lugares cada vez mais quentes.
Um novo estudo identificou os fundamentos genéticos de um conjunto de adaptações que poderiam permitir que a vida vegetal prosperasse, mesmo em condições climáticas extremas.
“Numa era de mudanças climáticas aceleradas, é fundamental descobrir a base genética para melhorar a produção e a resiliência das culturas em condições secas e pobres em nutrientes”, justificou Gloria Coruzzi, professora no departamento de biologia da Universidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
A equipa estabeleceu um “laboratório natural” no deserto do Atacama durante 10 anos. Segundo o comunicado da universidade, os cientistas recolheram e caracterizaram o clima, o solo e as plantas em 22 locais em diferentes áreas vegetativas e elevações.
Além das temperaturas, que flutuavam mais de 50 graus do dia para a noite, registaram os níveis de radiação muito elevados, as condições do solo arenoso e carente de nutrientes, assim como as chuvas.
Depois de sequenciarem os genes expressos nas 32 espécies de plantas dominantes no Atacama, verificaram que algumas desenvolveram bactérias promotoras de crescimento perto das suas raízes, uma estratégia adaptativa para otimizar a ingestão de azoto, um nutriente crucial para o crescimento das plantas.
Após compararem os genomas das 32 plantas do Atacama com 32 espécies “irmãs”, os investigadores identificaram 265 genes candidatos, cujas alterações de sequência proteica foram selecionadas por forças evolutivas.
As mutações adaptativas ocorreram em genes que poderiam estar subjacentes à adaptação das plantas às condições do deserto: genes envolvidos na resposta à luz e à fotossíntese, assim como genes envolvidos na regulação da resposta ao stress, sal, desintoxicação e iões metálicos.
“A maioria das espécies vegetais que caracterizamos nesta investigação não foram estudadas anteriormente. Como algumas plantas do Atacama estão intimamente relacionadas com culturas básicas, os genes candidatos que identificámos representam uma mina de ouro genética para engendrar culturas mais resistentes, uma necessidade dada a crescente desertificação do nosso planeta”, rematou o co-autor Rodrigo Gutiérrez.
https://zap.aeiou.pt/deserto-atacama-mina-ouro-genetica-443964
Sem comentários:
Enviar um comentário