O vírus do mosaico do nabo, que geralmente prejudica plantas da família do repolho, também beneficia os seus hospedeiros em tempos de crise.
De acordo com o site Science Alert, os investigadores descobriram que, durante os períodos de seca, o vírus do mosaico do nabo pode mesmo dar uma ajuda, alterando o relógio circadiano do seu hospedeiro para que este perca menos água.
No estudo, publicado este mês na revista científica PNAS, quando a erva daninha Arabidopsis thaliana foi infetada com uma variante específica do vírus, a equipa descobriu que a planta tinha 25% mais probabilidade de sobreviver ao stress hídrico subsequente. E tudo parece depender do clima.
“Em condições normais, o vírus mostra a sua visão clássica enquanto patógeno, matando plantas que têm água. No entanto, as plantas infetadas que foram submetidas a condições de stress devido à seca continuaram vivas”, explica o virologista Santiago Elena, presidente do Instituto de Biologia Integrativa de Sistemas (I2SysBio), localizado em Espanha, e um dos autores do estudo.
Para descobrir qual foi o responsável por estas mudanças, a equipa infetou plantas saudáveis com variantes do vírus que haviam evoluído em condições semelhantes às da seca ou crescido sob chuvas normais. De seguida, as plantas foram regadas normalmente ou submetidas a uma escassez de água.
As variantes do vírus que evoluíram em condições normais continuaram a causar doenças nas plantas, enquanto que as variantes que evoluíram em condições semelhantes às da seca mostraram mais misericórdia, mesmo quando os seus hospedeiros continuaram a ser bem regados.
Estas descobertas sugerem que os vírus evoluídos durante a seca estão, de alguma forma, a causar mudanças na transcrição dos genes dos seus hospedeiros para os ajudar a sobreviver melhor. Na verdade, os autores descobriram que as plantas infetadas com estas variantes apresentavam alterações genéticas ligadas ao relógio circadiano, que podem influenciar o uso de água pela planta.
“Já tinha sido observado antes que um vírus pode conferir tolerância à seca ao seu hospedeiro”, escreveram os cientistas, “mas, até onde sabemos, esta é a primeira vez que se explorou como é que o stress abiótico molda a evolução de uma interação hospedeiro-vírus”.
Segundo os investigadores, o mecanismo usado pelos vírus para induzir a tolerância à seca provavelmente não é universal e também deverá diferir dentro das espécies. Porém, se a ciência conseguir descobrir como transformar estes patógenos em parceiros, isso poderá ajudar a preparar as plantas para os períodos de seca que se avizinham, em grande parte devido às alterações climáticas.
https://zap.aeiou.pt/virus-protege-hospedeiro-clima-379110
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