Capacidade consiste no reconhecimento da envolvência sem recorrer à visão. Apesar de ser frequentemente usada pelos humanos, ainda que de forma inconsciente, os cientistas defendem agora que a ecolocalização pode ser treinada.
Um grupo de cientistas da Universidade de Durham, no Reino Unido, acredita ter descoberto o sexto sentido humano — e não, não é a intuição feminina. Trata-se uma capacidade usada frequentemente por golfinhos ou morcegos, quando têm que desenvolver as suas atividades sem luz, mas também por pessoas, especialmente invisuais, e foi batizada com o nome de ecolocalização.
Segundo Lore Thaler, doutorado e professor associado na área da Psicologia, “os seres humanos usam a ecolocalização, de forma passiva, a toda a hora” — ainda que sem consciência de que o estão a fazer.
Agora, dois novos estudos (estudo 1 e estudo 2) publicados recentemente na Plos afirmam que os seres humanos podem explorar esta capacidade e aprender a andar na escuridão quando a visão não consegue ajudar a percecionar o espaço envolvente.
“Quando um indivíduo entra numa divisão e intuitivamente percebe as suas dimensões ou se há mobília a preenche-la está, provavelmente, a basear a sua intuição em sinais como ecos ou reverberações — reflexos da luz ou do calor”, explica Thaler.
“Pessoas invisuais, por exemplo, batem com a bengala que as ajuda a andar para conseguirem uma melhor noção do espaço à sua volta. Estes são todos exemplos de ecolocalização“, acrescenta o investigador.
No estudo, liderado por Lore Thaler, foi testada a possibilidade de a ecolocalização ser ensinada a seres humanos que consideravam não a dominar.
Os participantes, com idades entre os 21 e os 79 anos, assistiram a 20 sessões de treino, e foram convidados a usar ecolocalização para identificar o tamanho de objetos e a sua própria orientação no laboratório. Paralelamente, completaram uma tarefa de computador, na qual ouviram sons e navegaram em torno de objetos.
Segundo Thaler, a experiência levou os investigadores a concluir que o grupo de participantes, o qual incluía invisuais, conseguiu aprender estas técnicas.
No caso das pessoas cegas, ficou provado que o desenvolvimento da sua capacidade sensorial ativa (resultante da aprendizagem) tinha impacto na forma como se movimentam e no seu bem-estar.
Este não é, contudo, uma espécie de superpoder ou talento com o qual só alguns nascem. A deteção ativa é uma capacidade que muitas pessoas já dominam, como os invisuais, segundo Daniel Kish, fundador e presidente da associação World Access for the Blind, sediada na Califórnia, que se dedica a treinar pessoas sem visão para a ecolocalização, assim como outras técnicas, para que possam explorar o mundo à sua volta.
No caso dos golfinhos, a ecolocalização é usada quando estes têm que navegar através de águas demasiado turvas que os impedem de ver e se localizar, enquanto os morcegos percecionam os obstáculos em seu redor quando voam de uma localização para outra através das ondas sonoras, aponta o site WebMD.
Na mesma linha, o segundo estudo, liderado por Miwa Sumiya, doutorada e investigadora no laboratório de Lore Thaler, reuniu 15 indivíduos sem formação em ecolocalização, que, através de computadores, enviaram ondas de som semelhantes aos sons usados pelos morcegos quando voam em territórios sem luz.
Posteriormente, os participantes foram questionados sobre a existência de objetos na divisão onde se encontravam e onde as ondas foram emitidas — não podendo utilizar a visão para responder à questão.
Mesmo sem treino, a maioria dos participantes conseguiu acertar na resposta. Para Sumiya, isto acontece porque “provavelmente não será difícil para as pessoas compreenderem a técnica e utilizá-la à medida que interagem com a sua envolvência”.
A diferença nos resultados, por sua vez, justifica-se, por exemplo, com o treino desenvolvido pelos invisuais na sua vida diária.
É que, apesar de o cérebro humano estar predisposto, por natureza, a usar a visão e as pessoas se basearem neste instrumento para explorarem o mundo, as pessoas cegas tiram partido dos restantes sentidos para fazer o mesmo tipo de função, afirma Daniel Kish.
Esta descoberta, que para muitos se trata apenas de uma confirmação das verdadeiras capacidades humanas, remonta aos primeiros tempos da atividade humana, quando a luz artificial ainda não existia.
“Eu acredito que os primeiros humanos eram altamente auditivos e provavelmente utilizavam a ecolocalização”, diz Kish. “Nós passamos muito tempo em cavernas e tínhamos que saber o que estava à nossa volta para evitar ameaças ou predadores.”
De facto, há evidências que as pessoas invisuais já utilizavam a ecolocalização para se movimentar na sociedade no ano de 1700, conclui Andrew Kolarik, investigador da Universidade de Anglia Ruskin, no Reino Unido.
https://zap.aeiou.pt/sexto-sentido-chama-se-ecolocalizacao-416059
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