Apesar da sua ilegalidade, um novo estudo demonstrou que as substâncias psicadélicas têm efeitos transformadores nos indivíduos que têm problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade.
Apesar de o uso de drogas em geral afetar de forma negativa a nossa saúde mental, com a linha entre o uso recreativo e o medicinal a ser muito ténue, um novo estudo comprova que a utilização de Ayahuasca tem efeitos positivos em pessoas que sofrem de depressão ou ansiedade.
A Ayahuasca — que é feita com a droga dimetiltriptamina (DMT), cipó Banisteriopsis caapi (mariri ou jagube) e folhas do arbusto Psychotria viridis (chacrona ou rainha) — é uma infusão psicoactiva amazónica muito usada nos rituais de cura e nas religiões sincréticas populares, especialmente na América do Sul.
Apesar da sua utilização generalizada nestes contextos e do interesse crescente a nível global, ainda não existiam estudos de larga escala que comprovassem os seus benefícios.
Agora, o Global Ayahuasca Project (Projeto Global Ayahuasca, em português) é o maior estudo alguma vez realizado sobre a utilização daquela infusão psicadélica e foi publicado, em abril, na revista Science Direct.
Levado a cabo entre 2017 e 2020, através de um questionário online preenchido autonomamente, a investigação mostra uma ligação entre a utilização de Ayahuasca e melhorias nas perturbações mentais.
Os investigadores analisaram, com recurso a uma variedade de medidas, os testemunhos de mais de 11 mil consumidores (7.785 dos quais relataram ter sintomas de depressão ou ansiedade) para inferir os seus índices de saúde mental, bem como a sua experiência subjetiva durante e após o consumo.
Os resultados mostraram uma melhoria impressionante dos sintomas de depressão e ansiedade, com 94% dos inquiridos a sentir alguma, grande ou a resolução completa dos indícios de depressão. O mesmo se verificou em 90% dos casos de participantes com sintomas de ansiedade.
O grande tamanho da amostra permitiu aos autores tirar uma série de conclusões sobre os tipos de experiência que se relacionaram com maiores melhorias: aqueles que relataram experiências místicas mais profundas, por exemplo, sentiram melhorias mais significativas.
No entanto, nem todos os inquiridos tiveram tanta sorte, escreve o PsyPost. Uma pequena minoria referiu um agravamento dos sintomas de depressão (2,7%) e de ansiedade (4,4%), com os indivíduos a relatar que se sentiam desconectados, sozinhos, nervosos, ansiosos, deprimidos ou sem esperança nas semanas imediatamente a seguir ao consumo de Ayahuasca.
Em geral, o estudo sugere uma relação entre a utilização da Ayahuasca e a melhoria dos sintomas em indivíduos que sofrem de depressão ou ansiedade, com muito poucas provas de efeitos negativos para a saúde mental.
Porém, uma das principais limitações do estudo é o facto de o questionário ter sido distribuído através de grupos e fóruns de Ayahuasca, onde é mais provável que indivíduos com reações positivas àquela infusão estejam mais ativos.
Recentemente, a plataforma de streaming Netflix adicionou o documentário “The Last Shaman” — que conta a história de um jovem com depressão que, num último esforço para impedir o seu suicídio, viaja até à Amazónia para se submeter a um milenar ritual alucinatório — à sua extensa lista de conteúdos.
Além disso, há estudos que apoiam a hipótese de que a substância pode ajudar na formação de neurónios, na redução do risco de suicídio de pessoas com depressão “incurável” ou até mesmo no combate ao alcoolismo.
https://zap.aeiou.pt/ayahuasca-infusao-psicadelica-melhora-413889
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