Movimentações da espécie são atribuídas pelos cientistas às alterações climáticas, que provocam um desaparecimento mais prematuro do gelo nos meses de verão.
As consequências das alterações climáticas estão a fazer-se sentir no dinamismo das orcas, conhecidas na gíria como balias assassinas. De acordo com uma investigação científica, baseada em observações, foi possível concluir que esta espécie se está a aventurar cada vez mais pelo Ártico – em distância e em frequência –, o que é visto como uma resposta à descida dos níveis de gelo naquela região, mas, simultaneamente, uma ameaça para os ecossistemas marítimos.
Tal como lembra o New Scientist, as orcas são predadoras inteligentes e versáteis. Apesar de poderem ser encontradas na maioria dos oceanos do planeta, não costumam avançar para as águas cobertas de gelo do Ártico perto do Alasca, já que esse mesmo gelo faz dessa região uma de difícil acesso com o perigo sempre presente de poderem ficar presas por baixo dessa superfície.
No entanto, o que Brynn Kimber e os seus colegas da Universidade de Washington encontraram são cada vez mais orcas neste território, contrariando, assim, os registos históricos. Para monitorizar os movimentos destes indivíduos, os investigadores usaram gravações acústicas subaquáticas nas águas do Ártico noroeste. Com recurso a este mecanismo, foram recolhidos dados entre 2012 e 2019, a partir de quatro gravadores presos a âncoras posicionadas em áreas estratégicas do território entre o norte do Mar do Chukchi e o estreito de Bering.
Para efeitos de estimativa da população de orcas, os investigadores analisaram as gravações, numa tentativa de identificar a prevalência das vocalizações das orcas. Posteriormente, compararam esses números com as mudanças registadas na cobertura de gelo na região.
Acabaram por descobrir que nas regiões sul, mais próximas do estreito de Bering, as orcas eram detetadas com mais frequência a cada verão que passava. Mais: chegaram a esta área, no verão de 2019, cerca de um mês antes do que aconteceu em 2012 – com o desaparecimento prematuro do gelo a ser apontada como uma justificação. Já no que concerne às região do norte de Chukchi, a equipa também descobriu que as orcas estavam presentes com mais frequência e consistência até ao fim do período de análise – também, quiçá, devido à redução da cobertura de gelo.
“Estamos a vê-las com mais frequência em áreas que eu não acreditaria vê-las nos primeiros anos do estudo”, aponta Brynn Kimber.
Estas movimentações, é preciso notar, podem ter sérias consequências para os ecossistemas marinhos da região. Por exemplo, alguns estudos anteriores mostraram que as baleias-cabeça de proa (que nadam sobretudo nas águas do Ártico) têm vindo a tornar-se cada vez mais agressivas nas suas interações com as orcas nos últimos anos.
Este é um motivo de preocupação para os cientistas, já que algumas das populações de baleias-cabeça de proa estão em perigo, sendo esta espécie especialmente importante para as comunidades inuítes, avança Kimber. Simultaneamente, as orcas também caçam outros mamíferos marinhos, tais como as baleias-brancas e as focas.
“Com o gelo a desaparecer, haverá mais e mais mudanças na área. Acho que este caso é apenas um de muitos”, avança a autora da investigação publicada no The Journal of the Acoustical Society of America. “As diferentes mudanças de ecossistemas que possamos ver e todos os impactos que delas resultem é algo no qual devemos pensar”, sugere.
https://zap.aeiou.pt/orcas-mais-frequentes-oceano-artico-448614
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