Desde a sua formação, há cerca de 4,5 mil milhões de anos, a rotação da Terra tem vindo a diminuir gradualmente e, como resultado, os seus dias têm-se tornado progressivamente mais longos.
Segundo o site Science Alert, embora esta desaceleração da Terra não seja percetível nas nossas escalas de tempo, é o suficiente para provocar mudanças significativas. Uma delas, de acordo com uma nova pesquisa, e a mais importante para nós, é que o alongamento dos dias está relacionado com a oxigenação da atmosfera terrestre.
A razão pela qual a rotação da Terra está a diminuir é porque a Lua exerce uma atração gravitacional no planeta, o que causa uma desaceleração rotacional, uma vez que o nosso satélite está também gradualmente a afastar-se.
Com base nos registos fósseis, sabe-se que os dias duravam apenas 18 horas, há cerca de 1,4 mil milhões de anos, e que eram meia hora mais curtos do que hoje, há 70 milhões de anos. As evidências sugerem que estamos a ganhar 1,8 milissegundos por século.
Além disso, também é importante referir o chamado Grande Evento de Oxigenação, quando as cianobactérias emergiram em tão grandes quantidades que a atmosfera da Terra experimentou um aumento acentuado e significativo de oxigénio.
Sem essa oxigenação, os cientistas pensam que a vida como a conhecemos não poderia ter surgido, embora ainda existam muitas coisas sem resposta como, por exemplo, porque é que isto aconteceu e porquê naquela altura.
Segundo o mesmo site, foram precisos cientistas que trabalham com cianobactérias para chegar a algumas conclusões. Numa área do Lago Huron, na América do Norte, podem ser encontrados tapetes microbianos que são considerados análogos das cianobactérias responsáveis pelo Grande Evento de Oxigenação.
Existem cianobactérias roxas que produzem oxigénio através da fotossíntese e os micróbios brancos que metabolizam o enxofre. À noite, estes últimos sobem até o topo do tapete microbiano e comem enxofre. Quando o dia amanhece e o Sol fica alto o suficiente, estes retraem-se e as cianobactérias roxas sobem ao topo.
Isto significa que a janela diurna em que as cianobactérias podem bombear oxigénio é muito limitada. E foi este facto que chamou a atenção do oceanógrafo Brian Arbic, da Universidade do Michigan, que se questionou se a mudança na duração dos dias ao longo da história teve um impacto na fotossíntese.
“É possível que um tipo semelhante de competição entre micróbios tenha contribuído para o atraso na produção de oxigénio na Terra primitiva”, explicou Judith Klatt, geomicrobióloga do Instituto Max Planck e uma das autoras do estudo publicado, esta segunda-feira, na revista científica Nature Geoscience.
Para demonstrar esta hipótese, a equipa realizou experiências e medições nos micróbios, tanto no seu ambiente natural como em laboratório. Também fez estudos detalhados com base nos seus resultados para ligar a luz solar à produção de oxigénio microbiano e a produção de oxigénio microbiano à história da Terra.
“A intuição sugere que dois dias de 12 horas devem ser semelhantes a um de 24 horas. A luz do sol sobe e desce duas vezes mais rápido, e a produção de oxigénio segue em sincronia”, explicou o cientista marinho Arjun Chennu, outro dos autores do estudo.
“Mas a libertação de oxigénio nos tapetes bacterianos não, porque é limitada pela velocidade de difusão molecular. Este desacoplamento subtil da libertação de oxigénio da luz solar está no cerne do mecanismo”, acrescentou.
Estes resultados foram incorporados em modelos globais de níveis de oxigénio e a equipa descobriu que o aumento dos dias estava relacionado com o aumento no oxigénio da Terra: não apenas o Grande Evento de Oxigenação, mas um outro, chamado Evento de Oxigenação Neoproterozóica, que aconteceu há 550 a 800 milhões de anos.
“Ligámos leis da física que operam em escalas muito diferentes, desde a difusão molecular à mecânica planetária. Mostrámos que existe uma ligação fundamental entre a duração do dia e a quantidade de oxigénio que pode ser libertado por micróbios que vivem no solo”, disse Chennu.
“É muito emocionante. Desta forma, relacionamos a dança das moléculas no tapete microbiano à dança do nosso planeta e da sua Lua”, concluiu.
https://zap.aeiou.pt/rotacao-da-terra-esta-a-diminuir-oxigenio-421813
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