Um novo estudo utilizou Inteligência Artificial para avaliar mais de 240 mil estudos e concluiu que o nível de glucose no sangue é a variável biológica mais referida e que mais influencia a severidade de quem é infectado com covid-19.
Desde o início da pandemia que uma das questões que mais intrigam a comunidade científica é a disparidade dos efeitos da covid-19 dependendo das pessoas, com alguns infectados a serem completamente assintomáticos e nem sequer saberem que contraíram o vírus, enquanto outros lutam pela vida ou acabam mesmo por sucumbir à doença.
A idade mais avançada, ter um sistema imunitário mais frágil ou sofrer de doenças crónicas são alguns dos factores de risco já conhecidos, e um novo estudo publicado em Julho na Frontiers vem juntar os elevados níveis de glucose no sangue à lista.
O Blue Brain é um projecto de machine-learning – o uso de algoritmos que melhoram sozinhos através da análise de grandes volumes de dados – que avaliou mais de 240 mil estudos que estão acessíveis na base de dados COVID-19 Open Research Database, também conhecida como CORD-19.
Dados todos os dados disponíveis, os fundadores da CORD-19 desafiaram os criadores de Inteligência Artificial a arranjar um sistema que processasse toda a informação e que encontrasse pistas comuns que ajudem a comunidade científica a descobrir mais sobre a doença. O Blue Brain concluiu que os níveis de glucose no sangue são a variável biológica mais referida nos estudos.
“Com o acesso à base de dados CORD-19, o Blue Brain chamou rapidamente uma ferramenta de IA e tentou descobrir porque algumas pessoas ficam doentes e outras não. Porque é que tantas pessoas aparentemente saudáveis morrem de covid-19? Porque é que tantas pessoas morrem nas UCI?”, afirma o professor Henry Markram, autor do estudo, num comunicado citado pelo IFLScience.
Para responder a estas questões, os investigadores usaram a IA para acompanhar todos os passos da infecção desde o momento em que o vírus entra nos pulmões, até quando se espalha pelo corpo e infecta os órgãos.
“Também criámos o vírus num nível atomístico e desenvolvemos um modelo computacional da infecção para que pudéssemos testar o que estava a sair dos estudos. Acho que encontrámos a razão pela qual algumas pessoas ficam mais doentes que outras”, revela Henry Markram.
Os testes concluíram que o nível alto de glucose no sangue cria as condições ideais para que o vírus passe pelas defesas iniciais do corpo, quando entra no sistema respiratório e luta contra o sistema imunitário dos pulmões. Caso tenha sucesso, o vírus consegue replicar-se rapidamente e causar bastantes mais danos do que se fosse neutralizado logo.
A destruição das defesas anti-virais dos pulmões e a fragilização do sistema imunitário, que causa uma tempestade de citocinas, são outras consequências dos níveis de glucose altos, que também tornam mais fácil a entrada do vírus nas células via o receptor ACE2.
Apesar desta hipótese ainda não estar completamente provada, o artigo ajuda a perceber o impacto que os altos níveis de glucose têm no corpo e em como este pode ser um factor de risco. O estudo demonstra também o potencial que a Inteligência Artificial tem na revisão de literatura científica e em como pode ser útil para agregar informação e encontrar padrões.
https://zap.aeiou.pt/nivel-de-glucose-no-sangue-e-um-dos-factores-mais-influentes-na-severidade-da-covid-19-424195
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