Um estudo realizado em camundongos mostra que se produzem
algumas reações no cérebro destes animais depois do aumento dos níveis
de glicose no sangue.
Quando temos fome comemos e quando comemos ficamos saciados. Isto
parece uma coisa óbvia, mas os mecanismos fisiológicos que o tornam
possível são mais complexos do que pensamos. Agora, avança o jornal ABC, uma equipa de cientistas revela qual é o mecanismo que ativa essa sensação de saciedade depois de comermos.
Suspeita-se que a saciedade e a fome dependem em parte da
plasticidade sináptica, a capacidade dos neurónios de reconfigurar as
suas conexões em resposta a certos estímulos.
Mas, agora, o estudo do Centro Nacional de Investigação Científica
(CNRS), realizado com camundongos, mostrou que estes circuitos neurais
se ativam durante uma refeição, regulando o comportamento dos animais.
Porém, parece que a plasticidade sináptica não interfere.
Os investigadores focaram-se em alguns neurónios do hipotálamo que respondem a uma molécula chamada POMC
(pró-opiomelanocortina). Estes regulam o apetite, a ingestão de
alimentos, o comportamento sexual, a amamentação e até o ciclo
reprodutivo.
Para percebermos a sua importância, estes neurónios estão
interconectados com muitos outros e as suas conexões são especialmente
maleáveis e sensíveis a alterações hormonais.
Paradoxalmente, os cientistas observaram que estes circuitos não
mudam depois de um camundongo fazer uma refeição equilibrada. No
entanto, aconteceu algo ainda mais surpreendente: As células nervosas
que geralmente apoiam os neurónios — astrócitos — mudam de forma (mais
especificamente, retraem-se).
No caso dos neurónios POMC, os astrócitos atuam, geralmente, como
limitadores da sua atividade. Mas os cientistas notaram que, depois de
comer, quando os níveis de glicose no sangue aumentam, esses astrócitos
detetam o sinal e retraem-se cerca de uma hora.
De seguida, os neurónios POMC ativam-se, libertando hormonas e sinais
que induzem a sensação de saciedade e que levam o animal a não comer
mais.
Curiosamente, a equipa percebeu que uma refeição rica em gordura não
ativa este mecanismo. Por isso, num futuro próximo, vai tentar perceber
se isto significa que a gordura é menos eficaz na hora de saciar ou se,
pelo contrário, induz a saciedade de outra forma. Outra opção é a
gordura poder ativar uma sensação de prazer viciante sem chegar a criar
saciedade, o que seria realmente uma bomba-relógio para o nosso cérebro.
O estudo foi publicado, esta terça-feira, na revista científica Cell Reports.
Fonte: https://zap.aeiou.pt/cerebro-muda-comemos-312236
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