Cientistas criaram um novo método para estabilizar
medicamentos e vírus numa película que não requer refrigeração e pode
facilitar imenso o processo distribuição.
A corrida começou para identificar uma vacina eficaz para o vírus Covid-19. Uma vez descoberta, o próximo desafio será fabricá-la e distribuí-la pelo mundo.
Um grupo de investigadores garante ter desenvolvido um novo método
para estabilizar vírus vivos e outros medicamentos biológicos numa
película de rápida dissolução que não requer refrigeração e pode ser administrada por via oral.
Como os ingredientes para fazer a película são baratos e o processo é
relativamente simples, isto poderia tornar as campanhas de vacinação
muito mais acessíveis. Grandes quantidades podem ser enviadas e distribuídas facilmente, devido à sua forma plana.
Globalmente, as taxas de vacinação melhoraram na última década, mas
ainda são muito baixas — 13,5 milhões de crianças não foram vacinadas em
2018. Esta nova tecnologia, publicada
recentemente na revista Science Advances, tem o potencial de melhorar
drasticamente o acesso global a vacinas e outros medicamentos
biológicos.
Stephen C. Schafer
Inspirado em rebuçados
A equipa de investigação começou a desenvolver esta tecnologia em
2007, quando os Institutos Nacionais de Saúde pediram para desenvolver
um método de entrega sem agulha e não perecível em prateleiras para uma
vacina.
A ideia de desenvolver uma película foi inspirada num documentário
sobre como o ADN de insetos e outros seres vivos pode ser preservado
durante milhões de anos em âmbar. Isso levou os cientistas a pensar em rebuçados.
Era uma ideia simples, mas ninguém tinha tentado. Por isso, começaram
a trabalhar misturando uma variedade de formulações contendo
ingredientes naturais, como açúcares e sais, e testando-os quanto à
capacidade de formar um rebuçado semelhante a âmbar.
Inicialmente, muitas das tentativas testadas mataram o organismo
quando a película se formou ou cristalizou durante o armazenamento,
destruindo o vírus ou as bactérias que estavam a tentar preservar. Mas,
finalmente, após cerca de 450 tentativas ao longo de um ano, encontraram uma solução.
À medida que ganharam mais experiência com o processo de produção,
trabalharam para simplificá-lo, para que não fosse necessário um
formação técnica extensiva. Além disso, aprimoraram os ingredientes para
que secassem mais rapidamente, permitindo que se fizesse um lote de
vacinas pela manhã e o enviasse após o almoço.
A equipa está agora a trabalhar com uma startup para poder lançar esta tecnologia no mercado nos próximos dois anos.
Mais benefícios
Todas as vacinas armazenadas perdem a sua potência ao longo do tempo.
A taxa na qual elas fazem isso depende principalmente da temperatura em
que são mantidas. Manter as vacinas continuamente refrigeradas é
difícil e caro — e em algumas partes do mundo, quase impossível.
Portanto, criar uma vacina que possa ser armazenada e transportada à temperatura ambiente é uma enorme vantagem.
A maior inovação deste projeto ocorreu quando estavam a terminar o
projeto de vacina contra o Ébola e encontraram películas que continham
vírus produzidos há três anos, armazenados num recipiente selado na
bancada do laboratório.
Por capricho, os investigadores voltaram a hidratá-la e testaram para
determinar se a vacina ainda era capaz de induzir uma resposta imune.
Para sua surpresa, mais de 95% dos vírus na película
ainda estavam ativos. Atingir este tipo de prazo de validade numa vacina
não refrigerada foi surpreendente.
A pegada ecológica deixada pelas campanhas globais de imunização
não é frequentemente considerada. A Campanha de Eliminação de Sarampo
das Filipinas de 2004, que imunizou 18 milhões de crianças num mês,
gerou 19,5 milhões de seringas, ou 143 toneladas de resíduos de objetos
cortantes e quase 80 toneladas de resíduos não perigosos — frascos
vazios, invólucros de seringas, bonés, cotonetes e embalagens. As
implicações para uma campanha maior são significativas.
Esta nova película, por outro lado, pode ser distribuída por
profissionais de saúde equipados apenas com um envelope com uma vacina.
Uma vez tomada, não deixará vestígios, exceto uma população global saudável.
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