Uma equipa de investigadores estudaram uma catastrófica
inundação no rio Amarelo que dizimou a cidade chinesa de Kaifeng em
1642, dando novas ideias sobre um desastre que, segundo se acredita,
matou cerca de 300 mil pessoas.
De acordo com o estudo publicado em fevereiro na revista científica Scientific Reports,
os cientistas examinaram evidências geológicas e arqueológicas, que
revelaram que o dilúvio “destruiu o centro da cidade de Kaifeng,
sepultando a cidade e os seus habitantes a poucos metros de lodo e
argila”, apoiando evidências encontradas em documentos históricos.
Segundo a equipa, liderada por Michael Storozum da Universidade Fudan, a inundação foi tão catastrófica porque as muralhas da cidade entraram em colapso durante um cerco, o que significa que a maioria das águas ficou presa no interior.
O rio Amarelo – o segundo mais longo do país -, por vezes, é chamado
“tristeza da China” devido à sua tendência ao longo dos séculos de
produzir inundações devastadoras. Documentos históricos sugerem que o
rio Amarelo inundou mais de mil vezes nos últimos dois
mil anos, resultando na morte de milhões de pessoas. Alguns desses
eventos estão entre os desastres de enchentes mais mortais da História.
Kaifeng localiza-se na margem sul do rio, no que é agora a província
central de Henan. Anteriormente, era uma das maiores cidades do mundo e
funcionava como a capital imperial de várias dinastias chinesas. A
cidade foi alvo de várias inundações no rio Amarelo. Nos últimos três
mil anos, o rio inundou a cidade cerca de 40 vezes. No entanto, o evento de 1642 foi o mais devastador de todos.
No entanto, ao contrário das outras inundações, este evento não foi causado pela natureza, mas sim pelos seres humanos.
Durante seis meses, a cidade resistiu a um cerco rebelde. Quando se
percebeu que a cidade não aguentava mais, o governador de Kaifeng
decidiu tomar medidas drásticas, que acabaram por custar a vida de
milhares de pessoas do seu próprio povo.
“O governador de Kaifeng ordenou que as águas do rio Amarelo fossem libertadas na esperança de destruir o exército rebelde”, escreveram Xin Xu e Rivka Gonen, citados pelo Newsweek.
“Os diques foram quebrados, mas em vez de ferir os rebeldes, as águas
varreram a cidade, afogando a população totalmente despreparada. De uma
população de 378 mil, apenas alguns milhares sobreviveram”.
Trabalhos arqueológicos recentes realizados em Kaifeng por Storozum e
os colegas demonstraram que as muralhas da cidade de Kaifeng caíram
durante o cerco, deixando a cidade desprotegida contra as águas da
enchente. “O fluxo constante de água da enchente para a cidade criou uma
mistura mortal de lama e detritos urbanos que ampliaram significativamente o poder destrutivo do rio Amarelo”.
Segundo os investigadores, investigações sobre desastres como este
podem ajudar a lançar luz sobre eventos semelhantes de hoje,
especialmente num mundo em que as mudanças climáticas deverão causar um
aumento do clima extremo em todo o mundo.
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