Sonda Dawn, da Nasa, orbita planeta desde março deste ano.
Ceres é o menor planeta anão do Sistema Solar (Foto: Nasa/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA)
Considerado no passado como um planeta, depois um asteroide e agora um
planeta-anão com algumas características de lua, os cientistas ainda
estão intrigados por Ceres - este corpo celeste que só agora começa a
ser mais bem conhecido.
Novas observações dessa misteriosa bola de rocha e gelo - de 950 km de
diâmetro, orbitando ao redor do Sol entre Marte e Júpiter -
acrescentaram mais ingredientes ao enigma, informaram os pesquisadores
nesta segunda-feira.
A sonda Dawn (Aurora), uma missão de US$ 473 milhões da agência espacial americana (Nasa)
que desde 6 março orbita ao redor de Ceres, obteve informações
adicionais sobre dois intrigantes pontos brilhantes na superfície do
protoplaneta. Eles já especificaram que um é muito diferente do outro.
Enquanto o ponto 1 é muito mais frio do seu entorno imediato, o ponto 5
não é, informou a equipe de cientistas da Dawn presente em Viena, no
marco da Assembleia Geral da União Europeia de Geociências, organização
que reúne estudantes de ciências da Terra e do espaço.
"O que podemos dizer é que um dos pontos brilhantes parece comportar-se
de maneira muito diferente. Isso é tudo o que podemos dizer agora",
afirmou Federico Tosi, que estuda o Ceres a partir de dados enviados
pela sonda.
Os pontos 1 e 5 fazem parte das dezenas de pontos brilhantes vistos em
fotografias tiradas pela Dawn em que eles aparecem como luzes sobre uma
superfície cinzenta.
Descoberto em 1801 pelo astrônomo siciliano Giuseppe Piazzi, Ceres se
move no cinturão de asteroides a cerca de 9,9 bilhões de quilômetros do
Sol, cumprindo uma órbita completa a cada 4,61 anos terrestres.
A equipe da sonda Dawn foi capaz de reunir imagens de Ceres tiradas com
diferentes comprimentos de onda de luz, explicou Tosi à imprensa.
Uma das imagens que corresponde ao que o olho humano vê mostra Ceres
como uma esfera "marrom escura" com dois pontos claramente visíveis.
No entanto, nas imagens térmicas, o ponto 1 é visto como uma mancha
escura em uma esfera vermelha, indicando que "é mais frio do que o resto
da superfície observada na mesma hora do dia de Ceres, sob as mesmas
condições de iluminação Solar", disse Tosi.
A "grande surpresa", acrescentou ele, é que o ponto 5 desaparece na imagem térmica.
"O que é certo é que existem pontos brilhantes na superfície de Ceres,
que pelo menos do ponto de vista térmico parecem se comportar de maneira
diferente", acrescentou.
Teorias que explicam o que são esses pontos variam de seria gelo até
"minerais hidratados", ou seja, a água que não está na forma de gelo
puro, mas absorvida por minerais.
Menos crateras do que se esperava
Imagem da Nasa mostra superfície do planeta Ceres em março deste ano (Foto: Nasa/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA)
A presença de gelo seria difícil de explicar porque Ceres está em uma
área não muito longe o suficiente do Sol para permitir a formação de
"gelo estável" na superfície, explicou Tosi, membro do Instituto
Nacional de Astrofísica, em Roma.
Outro aspecto intrigante são as diferenças entre Ceres e seu vizinho
Vesta, um asteroide estudado pela Dawn em 2011 e 2012. Vesta é brilhante
e reflete grande parte da luz solar, enquanto Ceres é escuro.
A equipe também observou menos crateras na superfície de Ceres, diferentemente do que já havia sido encontrado em Vesta.
"Quando comparamos o tamanho das crateras de Ceres com as de Vesta, foi
um número bem menor do que estávamos antecipando", contou Christopher
Russell, principal cientista da missão Dawn.
Outras marcas presentes na superfície, no entanto, sugerem que Ceres
"teve uma história violenta em matéria de colisão", segundo Martin
Hoffman, do Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar.
As coisas vão ficar mais claras nos próximos meses na medida em que a
sonda Dawn - que durante semanas permaneceu lado escuro da Ceres - for
se aproximando da superfície para observar sua composição e temperatura.
Os pesquisadores esperam que a missão, em seguida, forneça informações
valiosas sobre a formação do nosso Sistema Solar, da qual Ceres parece
ser, aparentemente, uma relíquia.
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