quarta-feira, 22 de abril de 2015

Interpretação de multi-versos

implicacoes da interpretacao de muitos mundos

De acordo com a “interpretação de muitos mundos" da física quântica, vivemos em uma rede infinita de linhas de tempo alternativas. Essa obviamente é uma afirmação grave que carrega uma bagagem bastante científica, filosófica e existencial.

Para você entender melhor do que tudo isso se trata, reunimos aqui o que me parecem ser as nove mais estranhas possíveis implicações dessa teoria engenhosa.

A interpretação de muitos mundos

De acordo com uma hipótese planejada pelo físico quântico Hugh Everett, vivemos em um universo – ou mais precisamente um multiverso – onde cronogramas estão constantemente se ramificando e criando mundos distintos e coerentes, cada um experimentado por uma versão diferente de você.

Os físicos quânticos têm usado a IMM para conciliar uma lacuna desconfortável da “interpretação de Copenhague”, que é a afirmação de que um fenômeno não observado pode existir em estados duplos. Então, ao invés de dizer que o gato de Schrödinger é vivo e morto, os defensores da IMM diriam que o gato simplesmente “se ramificou” em dois mundos diferentes: um em que ele está vivo e outro em que ele está morto.

Cerca de 60 anos após ter sido concebida pela primeira vez, a IMM continua a ser um assunto altamente controverso. Em uma pesquisa feita entre físicos quânticos em 2013, apenas um quinto deles disse que assinam embaixo da IMM (em comparação com 42% que preferem a interpretação de Copenhague).

Dito isso, a lista de pensadores que se dizem favoráveis à interpretação de muitos mundo é impressionante, e inclui pensadores eminentes como o físico quântico David Deutsch, o cientista da computação teórica Scott Aaronson e o físico Sean Carroll.

Independentemente de como essa teoria se destaca, é certamente interessante pensar sobre suas implicações. A gente nem começou e a minha cabeça já deu um nó!

1. Nós vivemos em um multiverso de proporções gargantuescas

É muitas vezes tido como certo pelos cosmólogos que o mundo que observamos é único – daí o “uni” no universo.

Ruminações de multiversos já foram consideradas uma heresia científica, mas está parecendo cada vez mais provável que sejam verdade. Na verdade, a sugestão de que existe uma multiplicidade de universos foi posta por um número de cientistas e metafísicos bastante renomados.

A afirmação principal do IMM é que toda a existência é composta por uma superposição quântica de um número incontavelmente grande – ou até mesmo infinito – de universos. Se esta interpretação da existência é verdade, então deve haver um número absolutamente surpreendente de mundos alternativos.
E, consequentemente, mais chances de existir vida lá fora.

2. A única narrativa da sua vida é uma ilusão

A IMM também perturba a nossa noção de individualidade. Todos nós experimentamos nossas vidas como uma viagem coerente e discreta através do que parece ser o espaço e o tempo. Na realidade, porém, o auto é um conjunto em expansão exponencial de casos que estão ramificando-se de momento a momento. Como resultado, não devemos pensar em nós mesmos como indivíduos, mas como multiplicidades.

A razão para essa ilusão é que várias experiências não podem ser observadas, por isso ficamos com a impressão de que nós somos apenas uma única pessoa. Agora, isso não quer dizer que nossas experiências de realidade não são de alguma forma reais ou verdadeiras. Elas são. Nós apenas temos que reconhecer – via a Interpretação de Muitos Mundos – que nossas vidas não são exatamente o que parecem ser.
De repente, me sinto como uma personagem do filme Interestrelar. Que, aliás, se você não assistiu, deveria.

3. Existem versões incontáveis de você

Se a IMM for verdade, então deve haver um número quase infinito (ou infinito mesmo) de versões de você, e cada uma experimenta o mundo como indivíduo distinto e alheio a você e aos outros.
Consequentemente, o volume de caminhos alternativos de vida tem que ser incrivelmente grande. 

Desde o nascimento, você – ou o que você acha que é você – ramificou-se em mundos diferentes, com cada superposição de passagem. O conjunto completo de “você” é como um sistema radicular maciço que está crescendo exponencialmente, de forma que cada raiz representa um novo cronograma.

Como a IMM implica na variabilidade constante com base em probabilidades, cada nova instância de você deve ser diferente, observando-se um mundo em que um resultado alternativo tem acontecido.
Há versões de você que ainda estão com seus ex-pares românticos. Muitos de seus eus alternativos são mais felizes e mais bem sucedidos do que você é, e vice-versa. Também deve haver versões de você que já morreram, ou que sofreram a morte de um ente querido que ainda está vivo em seu mundo atual. Pode até haver versões “malvadas” de você, a la Star Trek. As possibilidades são praticamente infinitas, desde que os fundamentos da física não sejam violados.

4. Você ainda tem o livre-arbítrio

Tendo em conta que todas as decisões possíveis serão feitas por diferentes versões de você, a IMM torna difícil conciliar a questão do livre-arbítrio. Se todas as opções de escolha são selecionadas em mundos alternativos, então por que passar por todos os problemas de pesar todas as evidências antes de escolher? O destino coletivo de nossa totalidade, ao que parece, já foi determinado.

Mas, como especialista Michael Clive Price explica, enquanto todas as decisões são realizadas, algumas são realizadas com mais frequência do que outras. Em outras palavras, cada ramo de uma decisão tem o seu próprio “peso” que é fazer cumprir as leis usuais da estatística quântica.

Além disso, a IMM implicaria em um certo indeterminismo da existência, ainda que de forma intuitiva. Sempre nos perguntamos: “Eu poderia ter escolhido um rumo diferente na vida?”. A IMM implica fortemente que a resposta é definitivamente sim.

Além do mais, não só poderia ter escolhido um curso de ação diferente, como uma versão alternativa do que você realmente fez! Quanto ao porquê de você escolher de forma diferente, ou porque você se saiu de uma certa maneira em uma prova ou sei lá, tudo se resume à forma como os eventos quânticos na escala clássica são afetados – incluindo as cogitações do seu cérebro.

5. Deve haver algum mundo muito estranho lá fora

A IMM leva necessariamente a algumas possibilidades muito bizarras.

Mais uma vez, todas as ramificações dessa ideia são TEORICAMENTE possíveis, desde que sejam prováveis e não violem as leis da física. É importante notar, no entanto, que, dado o espaço de todos os mundos possíveis, é muito mais provável que você se encontre nos mais prováveis e aparentemente racionais dos mundos, porque eles aparecem com os mais elevados graus de frequência (e por várias ordens de magnitude).

Mas haverá alguns mundos em que coisas altamente improváveis devem acontecer. Por exemplo, se uma pessoa jogasse uma moeda para cima 1.000 vezes, deve haver um mundo em que a pessoa tira “cara” 1.000 vezes em sequência.

Além disso, deve haver um mundo lá fora onde alguém sempre aposta corretamente nos resultados de jogos esportivos, por exemplo.

Mais radicalmente, uma pessoa sem formação musical alguma podia sentar-se na frente de um piano e imediatamente começar a tocar o 3º Concerto de Rachmaninoff do início ao fim, incluindo todas as dinâmicas necessárias.

Em tal cenário, cada resolução de resultados de superposição em um determinado estado cerebral produz os movimentos corretos. As chances de isso acontecer, no entanto, estão além da escala astronômica e envolveria um terrivelmente pequeno subconjunto de todos os universos possíveis.
É aqui que muitos céticos traçam a linha dessa interpretação, argumentando que esses cenários são tão ridículos que quase parecem provar que a IMM não pode ser verdade.

6. Você é imortal… Ou quase

Isto é o que é referido como o suicídio quântico.

Imagine um cenário em que uma pessoa joga roleta russa com balas colocadas em metade das câmaras. Nesta superposição, cada rodada da câmara deve redefinir as chances de essa pessoa se matar em 50/50. Mas a IMM nos diz que deve haver um mundo em que a pessoa nunca atira em si mesma, mesmo depois de, digamos, 50 rotações da arma.

Embora as chances de isso acontecer sejam de uma em um quatrilhão, a interpretação de muitos mundos nos diz que isso deve acontecer em algum lugar, sim! Loucura total, não? 

Curiosamente, o físico Max Tegmark diz que este experimento em particular realmente pode servir como prova de que a IMM é verdade, embora, necessariamente, teria que acontecer a morte em inúmeros casos apenas para que um experimentador sortudo sobrevivesse.

Outra visão sobre a imortalidade quântica é a afirmação de que uma versão de nós deve sempre estar por perto para observar o universo. Paul Halpern, autor do livro “Einstein’s Dice and Schrödinger’s Cat”, coloca desta forma: “E sobre a sobrevivência humana? Somos uma coleção de partículas regidas no nível mais profundo por regras quânticas. Se cada vez que uma transição quântica tomasse lugar, nossos corpos e divisão da consciência, haveria cópias que experimentaram cada resultado possível, incluindo as que possam determinar a nossa vida ou morte. Suponha que em um caso um determinado conjunto de transições quânticas resultou na divisão celular com defeito e, finalmente, uma forma fatal de câncer. Para cada uma das transições, haveria sempre uma alternativa que não levaria ao câncer. Portanto, haveria sempre ramos com sobreviventes. Se nossa percepção consciente flui apenas nas cópias vivas, nós poderíamos sobreviver a qualquer número de eventos potencialmente perigosos relacionados com transições quânticas”.

Dito isto, os eventos quânticos devem obedecer às leis de conservação, de modo que provavelmente haverá situações em que não há como escapar das regras da natureza.

7. A comunicação entre mundos paralelos pode ser possível

Em 1995, o físico quântico Rainer Plaga propôs um teste experimental da IMM no qual ele descreve um procedimento para a troca de informações e energia “intermundos”, ou seja, “acoplamento fraco”.

Ao utilizar equipamento óptico quântico padrão, um único íon pode ser isolado a partir do seu ambiente em uma armadilha de íons. Uma medição de mecânica quântica, então, seria feita com dois resultados separados realizados em outro sistema, o que resultaria na criação de dois mundos paralelos.

Dependendo do resultado, um íon deve ser excitado em apenas um destes mundos paralelos antes do íon decorrer através da sua interação com o ambiente.

Plaga argumenta que devemos ser capazes de detectar essa excitação no outro mundo paralelo, o que posteriormente forneceria provas para corroborar a IMM – e um caminho potencial para enviar as informações para uma realidade paralela.

É difícil saber o quão detalhada essa informação poderia ser, ou se isso significaria alguma coisa para o receptor. É uma ideia fascinante a especular sobre as potenciais implicações de comunicação intermundos.

8. Não existem paradoxos sobre viagens no tempo

Muito simples: a presença de mundos alternativos significa que não há uma única linha de tempo para ser estragada.

Se uma pessoa fosse voltar no tempo, ela iria apenas detonar uma inteiramente nova rede de cronogramas. A IMM sugere que paradoxos – como voltar no tempo para matar alguém – não são nada para se preocupar.

9. Tudo já aconteceu, e vai acontecer novamente

A coisa mais engraçada sobre o conjunto completo de mundos infinitamente variáveis é que tudo já aconteceu.

E não é só isso: tudo o que já foi feito vai acontecer de novo um número infinito de vezes. Assim como Bill Murray no clássico filme “O Feitiço do Tempo” (no original, “Groundhog Day”), de 1993, o dia atual será experimentado por você mesmo mais algumas vezes. Incalculáveis vezes. 

Fonte: http://hypescience.com/interpretacao-de-muitos-mundos-vai-dar-um-no-na-sua-cabeca/

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