Há uma classe de estrelas que perplexa os cientistas há seis
décadas, conhecidas como estrelas de ramos horizontais extremos (EHB).
Apesar de terem metade da massa do Sol, são quatro a cinco vezes mais
quentes – o que não deveria acontecer.
Os cientistas suspeitavam que algo mais estivesse a acontecer, mas
não sabiam o quê. Novas observações revelaram pistas cruciais. A equipa
analisou as estrelas da EHB em aglomerados globulares, coleções
apertadas de estrelas que orbitam em torno da Via Láctea. Os cientistas
destacaram a variabilidade no brilho das estrelas e descobriram outra
pecularidade: estavam sozinhas.
“Estas estrelas quentes e pequenas são especiais, porque sabemos que
passarão por uma das fases finais da vida de uma estrela típica e
morrerão prematuramente”, disse o autor do estudo Yazan Momany do Observatório Astronómico de Pádua do Instituto Nacional de Astrofísica, em comunicado. “Na nossa galáxia, estes objetos quentes peculiares geralmente são associados à presença de uma estrela companheira próxima.”
A falta de um companheiro é muito importante. Os cientistas
consideraram que as suas propriedades extremas poderiam ser explicadas
como um produto das interações com uma estrela parceira. Sem um
companheiro, a causa deve ser um processo interno. Segundo a equipa, o período e a intensidade da variação podem ser explicados por fortes processos magnéticos.
Isso dá origem a manchas gigantes que cobrem até um quarto da estrela.
Estas manchas também duram mais tempo do que as manchas solares, que
podem desaparecer em algumas semanas. No caso das estrelas quentes,
persistem durante décadas.
“Depois de eliminar todos os outros cenários, havia apenas uma
possibilidade restante para explicar as suas variações de brilho
observadas”, explicou Simone Zaggia, também do
Observatório Astronómico de Pádua da INAF e co-autora do estudo. “Estas
estrelas devem ser atormentadas por manchas!”.
Em duas estrelas observadas, a equipa relata a presença de explosões:
uma libertação repentina de energia como as labaredas solares
libertadas pelo nosso Sol, mas 10 milhões de vezes mais energéticas.
As explosões também estão ligadas a variações do campo magnético, que
implica que o que causou o surgimento desta pequena estrela quente deve
ser encontrado na intensidade do campo magnético.
“Porém, o panorama geral é que as mudanças no brilho de todas as
estrelas quentes – de jovens estrelas parecidas com o Sol a velhas
estrelas exteriores de ramos horizontais e anãs brancas morts há muito
tempo – todos podem ser ligados. Esses objetos podem, portanto, sofrer coletivamente de pontos magnéticos nas suas superfícies”, disse David Jones, do Instituto de Astrofísica de Canarias e co-autor do estudo.
As observações foram realizadas com vários dos telescópios pertencentes ao consórcio European Southern Observatory, incluindo o Very Large Telescope e o New Technology Telescope.
As conclusões do estudo foram publicadas este mês na revista científica Nature Astronomy.
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