A investigadora Joana Azeredo, da Escola de Engenharia da
Universidade do Minho, vai ser a primeira portuguesa a baptizar um grupo
de vírus. Trata-se da quarta mulher, a nível mundial, a receber uma
distinção que só costuma ser atribuída no fim de carreira ou a título
póstumo.
Joana Azeredo, que é professora na Universidade do Minho (UM), vai
ter o seu apelido associado a um grupo de vírus, em concreto, à
subfamília Azeredovirinae, que atacam bactérias patogénicas para os humanos.
Trata-se de “um grupo [de vírus] que infectam especificamente bactérias”
e são “completamente inofensivos para os humanos”, conforme explica ao
ZAP a investigadora. Mas “é bondade falar em vírus bons”, refere,
salientando que “também estão associados à transferência das
resistências em bactérias”.
O que é bom é o facto de conseguirem “reconhecer e matar bactérias”, podendo, assim, ser utilizados “como armas” no combate a infecções bacteriológicas, nomeadamente no âmbito de “feridas crónicas, infecções urinárias e respiratórias”, como explica a investigadora.
Os vírus Azeredovirinae “infectam e matam bactérias do
género Estafilococos, causadores de doenças nos humanos” e “têm um
grande interesse terapêutico”, como destaca o comunicado do Gabinete de
Comunicação da UM.
“Actualmente, há 43 sub-famílias de vírus bacterianos (também
chamados bacteriófagos ou fagos) e só 14 delas foram nomeadas em tributo
a cientistas”, destaca ainda a Universidade.
“Há poucas mulheres em cargos de liderança em Ciência”
A nomeação de Joana Azeredo foi anunciada pelo presidente do
Sub-comité de Vírus de Bactérias e Arqueas do Comité Internacional de
Taxonomia de Vírus, Andrew Kropinski, e a aprovação deve acontecer na
próxima assembleia do organismo, em 2021, e é “habitualmente consensual”, segundo o comunicado da UM.
Trata-se da quarta vez que esta homenagem é feita a uma mulher
e Joana Azeredo confessa ao ZAP o seu “orgulho” com a distinção,
sobretudo porque “não é a título póstumo e porque se trata também de um
vírus bom”.
A investigadora admite que o mundo da Ciência ainda é dominado por homens, mas salienta que Portugal “é um dos países europeus com mais mulheres, sobretudo na área das Ciências da Vida”. “A minha equipa até tem mais mulheres do que homens”, diz ainda.
“Não sinto nenhuma discriminação de género em Portugal,
mas reconheço que possa existir, sobretudo porque há poucas mulheres
que ocupam cargos de liderança em Ciência”, salienta também ao ZAP.
Joana Azeredo aproveita ainda para destacar que Portugal “evoluiu muito em termos de Ciência nos últimos anos, sobretudo com o legado do ministro Mariano Gago“.
Mariano Gago foi ministro da Ciência e Tecnologia entre 1995 e 2002,
nos Governos de Guterres, e entre 2005 e 2011, nos Governos de
Sócrates.
Licenciada em Engenharia Biológica e doutorada em Engenharia Química e
Biológica pela UM, onde é professora associada, Joana Azeredo é
coordenadora do grupo de Ciência e Engenharia de Biofilmes do CEB –
Centro de Engenharia Biológica da Universidade.
Joana Azeredo também colabora com a Universidade Católica da Lovaina (Bélgica), o MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) e as universidades de Groningen e Wageningen (Holanda), entre outras instituições.
A investigadora foi uma das co-fundadoras da International Society of
Viruses of Microbes e é editora do “Virology Journal” e co-autora de
quatro patentes, três livros e mais de 150 artigos em revistas
internacionais, além de ter coordenado dois projectos de investigação
europeus e sete nacionais.
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