Dois enormes jatos de raios gama se projetam do centro do plano
galáctico, cada uma se estendendo por 25 mil anos-luz. Descobertas em
2010, as bolhas de Fermi têm causa desconhecida e seu mistério acaba de
aumentar: astrônomos descobriram que, dentro delas, estão aglomerados de
gás molecular frio – a matéria da qual estrelas são feitas.
As bolhas de Fermi têm, juntas, 50 mil anos-luz.
"Observamos
que há não apenas gás quente vindo do centro de nossa galáxia, como
também gás frio – mais denso, pesado e lento. Se expulsar muita massa, a
Via Láctea pode não ser capaz de formar estrelas”, disse a astrofísica
Naomi McClure-Griffiths, da Universidade Nacional da Austrália.
Para
encontrar esse gás molecular denso e frio, os pesquisadores usaram o
radiotelescópio chileno Atacama Pathfinder Experiment para procurar sua
assinatura espectral. Lá estavam elas: uma das nuvens de gás molecular
tem 380 massas solares e se move a 240km/s; a outra tem 375 massas
solares e se move a 300km/s.
Origem em um buraco negro
A
origem das bolhas de Fermi é ainda um mistério. Já se sabia que elas
continham uma mistura de diferentes gases e raios cósmicos, mas a
presença de aglomerados em alta velocidade de gás molecular frio foi uma
surpresa – mais uma pergunta a ser respondida.
No centro da Via Láctea existe uma fonte de rádio astronômica brilhante e
muito compacta – o que os astrônomos deduzem ser um buraco negro
supermassivo – conhecida como Sagitário A* ou apenas Sgr A*. Esse buraco
negro é o ator principal das duas explicações para as bolhas de Fermi.
Na primeira, supõe-se que, há milhões de anos, uma nuvem de gás
molecular em torno do buraco negro produziu supernovas Tipo II, o que
gerou intensos ventos estelares (responsáveis pela forma das bolhas de
Fermi). A outra explicação implica diretamente a singularidade: ela
teria engolido uma estrela que, ao se despedaçar, lançou material ao
longo do horizonte de eventos, impulsionando os jatos de gases e raios
cósmicos.
Nenhuma estrela a mais
Enquanto as opções para
explicar a origem das bolhas de Fermi são bastante boas, a presença do
gás formador de estrelas ainda é uma interrogação.
Segundo os
astrofísicos, a formação de estrelas nos últimos 50 milhões de anos
talvez explicasse (mas não completamente) o volume de gás sendo
expelido. Porém, modelos anteriores mostraram que essas nuvens têm uma
vida útil bastante curta, e provavelmente não sobreviveriam à exposição à
alta aceleração e ao vento quente do centro da galáxia.
Modelos computacionais também experimentaram a mistura de nuvens
frias e lentas com ventos quentes e rápidos, formando o gás resfriado de
movimento rápido, diretamente no ponto em que ele é ejetado. Porém, não
foi ainda possível replicar todo o processo.
Neutrinos energéticos
Pouco
ainda se sabe sobre as bolhas de Fermi. Mesmo invisíveis a olho nu,
elas emitem quantidades gigantescas de raios gama, gerados
principalmente por elétrons que, por sua vez, produzem neutrinos.
Na
Terra, o observatório de neutrinos na Estação Amundsen-Scott na
Antártida (o Neutrino Observatory IceCube) captou, em 2019, dez dessas
partículas, dotadas de imensa energia, provenientes das bolhas de Fermi.
Uma
das explicações põe prótons colidindo uns com os outros e produzindo
píons (partículas que decaem em raios gama). Outra especula que elétrons
de alta energia interagem com a radiação cósmica de fundo. Uma terceira
fala de ondas de choque nas bordas externas das bolhas usando campos
magnéticos para impulsionar velozmente as partículas. A resposta para a
formação dos neutrinos ainda não foi encontrada.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115746-via-lactea-esta-ejetando-a-materia-com-a-qual-produz-estrelas.htm
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