No passado, a ausência de batimentos cardíacos permitia aos médicos
declarar a morte de alguém – hoje, isso se dá através da perda
irreversível de todas as funções circulatórias (morte circulatória) ou
de todas as funções cerebrais (morte cerebral). Cientistas da
Universidade de Yale, porém, derrubaram um tijolo do que parecia um
conceito solidamente construído ao restaurar a circulação e a atividade
celular do cérebro de um porco, quatro horas após sua morte.
"A
principal implicação dessa descoberta é que a morte celular no cérebro
ocorre em uma janela de tempo maior do que pensávamos. Em vez de
acontecer ao longo de minutos após a morte, mostramos que ela é um
processo gradual e, em alguns casos, pode ser adiado ou mesmo,
revertido”, disse o neurocientista Nenad Sestan, um dos autores do
estudo publicado agora na revista Nature.
O sistema BrainEx, em Yale - dentro da câmara ao centro está um cérebro de porco.
A experiência (iniciada em 2012, conforme reportado pelo jornal The New York Times)
usou o sistema BrainEx, uma rede computadorizada de bombas, aquecedores
e filtros que controlam o fluxo e a temperatura de um perfusato
(líquido que atravessa os tecidos lenta e continuamente) especialmente
criado. Os cérebros de 32 porcos foram irrigados com a solução horas
depois de os animais terem sido mortos em um abatedouro comercial.
Funções celulares reativadas
Após
quatro horas, os pesquisadores descobriram que o BrainEx não apenas
tinha restaurado como mantido algumas células vivas no cérebro – muitas
das funções celulares básicas foram observadas, contrariando o preceito
de que o fim do fluxo de sangue e, consequentemente, de oxigênio levaria
à morte do cérebro em minutos.
Neurônios
(verde), astrócitos (vermelho) e núcleos celulares (azul) no cérebro de
um porco se desintegram dez horas depois da morte (à esquerda) ou
conseguem sobrevida após a perfusão via BrainEx (à direita).
Em
nenhum momento foi detectada atividade neural. “Definido clinicamente,
não era um cérebro vivo e sim, um cérebro ativo celular”, explicou o
também neurocientista Zvonimir Vrselja, coautor do estudo.
Ética entre a vida e a morte
Ainda
não é possível saber se o procedimento poderá ser aplicado em pessoas,
já que o perfusato elaborado não tem muitos dos componentes do sangue
humano. Há também que se considerar outro elemento que acompanha as
pesquisas que envolvem os limites entre vida e morte: a ética.
“A
restauração da consciência nunca foi um objetivo dos pesquisadores, que
estavam preparados para intervir com o uso de anestésicos e redução de
temperatura para interromper a atividade elétrica organizada se ela
surgisse", explicou o diretor do Centro Interdisciplinar de Bioética de
Yale e também autor do estudo, o especialista em direito e ética médica
Stephen Latham.
Segundo ele, "todos concordaram antecipadamente
que experimentos envolvendo atividade cerebral revivida não poderiam
prosseguir sem padrões éticos claros e mecanismos de supervisão
institucional."
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115776-cientistas-reativam-celulas-cerebrais-de-porcos-mortos.htm
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