Susana Zanello é uma especialista de adaptação humana à vida no
espaço. Por isso, esta renomada cientista compartilhou alguns de seus
pontos de vista sobre a sua pesquisa, que envolve detalhes sobre
exploração do espaço, futuras viagens a Marte e muito mais.
Como viagens espaciais afetam o corpo humano?
Viagens espaciais afetam o corpo humano de muitas maneiras – e muito
mais do que pensamos. Tanto que existem profissionais, como Susana
Zanello, que são especializados nesses efeitos. Bióloga, ela trabalha
para a “Ciências da Vida” em Houston, uma instituição que apoia o
trabalho da NASA. Sua missão é investigar a adaptação humana à vida no
espaço, identificar os riscos envolvidos e desenvolver contramedidas
para preservar a saúde dos astronautas quando eles vão em missões de
exploração espacial.
Depois de muitos estudos e pesquisas, ela relacionou algumas
consequências para o corpo humano que deixam bem claro que viver fora da
Terra é muito mais difícil do que parece.
1. A microgravidade complica tudo
É um enorme desafio viver fora da Terra. Com a evolução, a vida tem
realmente se adaptado para estar neste planeta. No espaço, um dos
principais riscos vem da microgravidade – ou a ausência de gravidade.
Uma consequência é a perda de densidade mineral óssea. Lá, você
simplesmente não tem que lutar constantemente contra a força da
gravidade, o que fazemos de forma natural aqui na Terra. Assim, não há
mais necessidade de um esqueleto para nos sustentar.
O corpo humano, então, começa a se adaptar ao ambiente reduzindo a
densidade de matriz óssea, processando o cálcio de forma diferente. Isto
leva a uma perda de força nos ossos, o que consequentemente aumenta o
risco de fraturas quando a pessoa volta para a Terra, bem como o de
desenvolvimento de pedras nos rins.
2. A radiação cósmica complica tudo
A radiação cósmica é outro risco crítico da exploração espacial. O
campo magnético da Terra é uma proteção muito eficaz para evitar que a
maioria das partículas de alta energia atinja a superfície do nosso
planeta. Fora dos cinturões de Van Allen, ou também em outros planetas,
somos constantemente bombardeados por fortes prótons solares e raios
cósmicos galácticos. Há uma grande evidência de que estes podem
atravessar todo o nosso corpo e inclusive afetar o nosso DNA. Assim, a
longo prazo, todos os riscos associados a essas alterações, como o
câncer, podem fazer um grande mal aos astronautas.
3. Viver fora do espaço prejudica a nossa visão
No início de 2000, os cientistas começaram a observar uma degradação
na acuidade visual dos astronautas depois que eles passavam muito tempo
na Estação Espacial Internacional. Após mais pesquisas, verificou-se um
achatamento no globo ocular e um espessamento da parte posterior do
olho, no início do nervo óptico.
Fora isso, cerca de 60% dos astronautas experimentam perda de visão,
que inclusive pode ser irreversível em certos casos. Tanto que a visão é
considerada como um risco para a saúde de alta prioridade pela NASA.
O que provoca esta perda de visão?
Os pesquisadores acreditam que isso acontece por causa de uma mudança dos fluidos dentro do corpo.
Na Terra, os líquidos tendem a ir para baixo em nossas pernas. Seu
movimento e válvulas em nossas veias das pernas, então, ajudam a bombear
o sangue de volta ao coração. Na microgravidade, este sistema não é
mais necessário, e então o fluido é bombeado para a cabeça. Isto leva
aos típicos inchaços no rosto e pés de galinha que os astronautas têm,
mas, também, possivelmente, ao aumento da pressão intracraniana.
Os cientistas acreditam que, quando a pressão cerebral aumenta, a
pressão por trás dos olhos é alterada, impactando a capacidade visual.
4. Viver fora da Terra afeta os humanos em um nível molecular
Há sinais fisiológicos de adaptação que podem ser observados, mas
também há alguns subjacentes a um nível molecular. Os genes podem ser
expressos de forma diferente no espaço, levando a mudanças fisiológicas
específicas.
Os estudos de Susana Zanello procuram responder a essas perguntas.
Mas, novamente, há uma série de limitações para a realização de
experimentos no espaço.
Comumente, os astronautas vivem lá por seis meses, e agora dois dos
voluntários da pesquisa estão participando de uma missão de um ano. Mas
quando estamos falando sobre ir para outros destinos, como Marte, isso
significa missões muito mais longas.
Para saber o que poderia acontecer em tais viagens, Susana Zanello
afirma que teríamos que realizar experiências não só na Estação
Espacial, mas também em plataformas que simulem, em certa medida, as
condições do espaço.
5. O psicológico não ajuda
Uma missão até Marte, por exemplo, é estimada em três anos. O
primeiro risco, então, é psicológico. Para medi-lo, os cientistas teriam
que levar em conta a duração, o afastamento, o isolamento, o
confinamento com um número limitado de pessoas, o estresse de uma alta
carga de trabalho e a pressão de ser bem sucedido.
Agora, quando um astronauta chega em Marte, há uma coisa boa: você
tem gravidade parcial. Os seus ossos serão imediatamente estimulados e
isso vai reduzir a taxa de perda de densidade. Porém, mais uma vez,
astronautas serão confrontados com os riscos da radiação de alta
energia, para não mencionar um clima severo, a grande quantidade de
poeira e a necessidade de uma boa nutrição, entre muitos outros fatores.
6. Os outros planetas não têm dias de 24 horas
Os pesquisadores estão começando a considerar nossa chegada a objetos
mais distantes, como o satélite de Júpiter, Europa, onde foi encontrado
água. Mas isso é muito mais longe que Marte! Ou seja… É praticamente
uma missão impossível com a tecnologia que temos disponível hoje.
Além disso, acredite ou não, apesar de Marte parece inóspito, ele é
um planeta completamente amigável em comparação com os outros que
conhecemos.
O seu tamanho e padrão de rotação são semelhantes aos da Terra.
Portanto, um dia é de quase 24 horas de duração. E isso é uma grande
coisa para os seres humanos, pois a vida evoluiu para caber em tais
condições. Viver em um planeta com um dia de 10 horas, por exemplo,
provocaria muitos outros efeitos adversos ao corpo.
Estamos muito adaptados às condições da Terra para sobreviver em outro lugar no espaço?
Experiências mostram que somos capazes de nos adaptar a condições
bastante adversas. Se algum dia você já assistiu ao programa “Pelados e
Largados”, sabe bem que é verdade – pelo menos em certa medida.
Mas também precisamos considerar que, em novos ambientes, existem
riscos que desconhecemos. A coisa mais importante é definir com muita
precisão os níveis aceitáveis de tais riscos.
Além disso, não podemos ignorar a ganância humana para a exploração
de territórios extraterrestres. Mesmo com um alto nível de risco, eu
aposto que sempre haverá alguém pronto para aceitar o desafio.
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