Os vírus ficam escondidos em partes do nosso corpo, mesmo quando o diagnóstico é que já foram eliminados. Inclusive, somos reservatórios ambulantes de vírus.
E isso não ocorre com doenças raras, como o ébola. Já
teve herpes? O herpesvírus que causa esta doença fica dentro das
células nervosas para o resto da vida. E fazem-no porque o nosso sistema
imunológico não consegue alcançá-las lá.
De facto, os vírus geralmente escondem-se em “pontos cegos” do
sistema imunológico. Isso geralmente significa duas coisas: 1) infectam
áreas do corpo que não estão sob total controlo do sistema imunológico,
ou 2) ficam inactivos dentro de células para que o nosso sistema
imunológico não possa detectá-los.
Os vírus conseguem fazer isso porque são minúsculos e simples. São
pequenos pedaços de material genético - RNA e ADN - protegidos por
proteína. Ao contrário de outros micróbios, não podem se reproduzir
sozinhos, e por isso precisam de atacar outras células para invadir o
seu mecanismo de produzir proteínas a fim de se replicarem. No geral, o
nosso sistema imunológico está lá para lutar contra isso; mas, em alguns
casos, não.
Os vírus ficam escondidos nos nossos corpos explorando alguma
vulnerabilidade nos nossos sistemas imunológicos. Esta vulnerabilidade -
chamada de «privilégio imunológico» – vem de uma antiga observação que o
transplante de tecidos de terceiros em certas partes do corpo não
desencadeia uma resposta natural do sistema imunológico.
Isso inclui o cérebro, a medula espinhal e os olhos. Cientistas
acreditam que essas partes do corpo são delicadas e demasiado
importantes para lidarem com a inflamação causada pela acção do sistema
imunológico.
Mas estas partes do corpo - vitais para a nossa sobrevivência
individual - não são completamente indefesas. O olho, que é directamente
exposto ao mundo exterior, tem o próprio sistema imunológico que luta
contra elementos patogénicos enquanto limita a inflamação. O cérebro,
por sua vez, tem um exército de células chamadas micróglia, que devoram
elementos patogénicos e neurónios danificados.
A barreira hematoencefálica, que se acreditava manter o sistema
imunológico fora do cérebro, é porosa a algumas células do sistema. Por
conseguinte, a ideia do privilégio imunológico não é tão absoluta quanto
os cientistas acreditavam, mas estas ainda são áreas do corpo nas quais
os vírus encontram um patrulhamento menor do sistema imunológico.
Isso ajuda a entender porque o ébola esconde-se nos olhos. O vírus
também pode ser encontrado nos testículos durante meses, porque essa é
outra área de privilégio imunológico.
Alguns vírus escondem-se basicamente fingindo-se de mortos dentro das
células. A catapora e a herpes zóster, por exemplo, são causadas pelo
mesmo vírus, o Vírus Varicela-Zóster (VVZ). E ainda assim a catapora e a
herpes zóster parecem diferentes: fica-se com bolhas vermelhas que
coçam na catapora, e manchas avermelhadas isoladas e dores nos nervos no
zóster. As duas parecem doenças inteiramente distintas porque, na
herpes, o vírus esconde-se no corpo.
Conforme o seu sistema imunológico luta contra a VVZ, o vírus recua
para dentro das suas células nervosas. Ali, para de invadir a máquina
molecular das células e para de se reproduzir. Estes segmentos de ADN
viral apenas ficam por ali, escondidos até algo os acordarem. Pode ser
algum tipo de stresse ou alguma alteração de saúde. É aí que a VVZ ataca
novamente, propagando-se pelos nervos e causando a vermelhidão
característica da zóster.
A VVZ é da família do herpesvírus, que possui a habilidade de se
esconder dormente em células. Isso inclui o Herpesvírus Simplex 1 e 2,
que causam feridas na boca e nos órgãos genitais, e também as variantes
que causam mononucleose infecciosa, também conhecida por doença do
beijo. Nos casos de herpesvírus simplex, cientistas descobriram que
certos genes ficam mais activos quando o vírus está dormente.
Outros vírus, como o HIV, podem integrar o próprio código genético ao
ADN das células sem muitos problemas. Isso, como deve imaginar,
torna-os extremamente difíceis de serem removidos.
Fonte: http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=773326
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