Grande parte do trabalho científico é fazer as perguntas certas. Estas
perguntas vão moldando a direção da investigação, enquanto novas
descobertas podem redefinir ou até mesmo mudar todas as questões
propostas.
Esse processo bem-sucedido existe por mais de 400 anos. Enquanto nos
ajudou a desvendar muitos mistérios do universo, algumas grandes
perguntas ainda permanecem não respondidas.
Confira quatro que estão atualmente impulsionando os campos da
cosmologia e da física de partículas. As duas primeiras já estão sendo
abordadas por meio de experimentos em andamento, enquanto as duas
últimas são questões fundamentais cuja resolução pode chegar em dias,
décadas, séculos ou até mesmo nunca.
Qual é a natureza da matéria escura?
Desde a década de 1970, sabemos que existe algo estranho chamado de
“matéria escura”. Ela domina não apenas galáxias, mas aglomerados de
galáxias, e é mais de 10 vezes mais abundante do que toda a matéria
visível no universo.
Mas do que é feita? Sabe-se lá.
Argumentos decorrentes de nossa compreensão da origem de elementos
leves no Big Bang implicam que este material não pode ser feito de
matéria normal, ou seja, a matéria composta de prótons, nêutrons e
elétrons, os blocos de construção de todos os átomos. Se, em vez disso,
ela é feita de um tipo de partícula elementar que não interage
eletromagneticamente, a matéria escura deve existir como um gás difuso
ou partículas permeando galáxias, incluindo a nossa. Como resultado, não
está apenas “lá fora”, está “aqui”, passando por você e por mim.
Esta possibilidade proporciona simultaneamente um desafio e uma oportunidade.
Sem saber a identidade da matéria escura, as tentativas de detectá-la
diretamente exigem alguns palpites sobre o que poderia ser. No entanto,
há uma possibilidade de detectá-la diretamente.
Tal detecção pode revelar não apenas sua natureza, mas também poderia
nos dizer algo fundamental sobre partículas e forças elementares.
Hoje, há duas abordagens diferentes para detectar a
matéria escura: detectores subterrâneos profundos, que esperam pegar
sinais minúsculos das raras partículas de matéria escura que dispersem
de um núcleo e depositem energia atômica; e a abordagem do Grande
Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas do mundo, que pode
recriar brevemente as condições do universo jovem, onde estas novas
partículas elementares nasceram, produzindo um número suficiente delas a
fim de serem detectadas em colisões.
Por que a força fraca é fraca?
O Grande Colisor de Hádrons, naturalmente, faz mais do que procurar a
matéria escura. Por exemplo, já descobriu coisas como o bóson de Higgs.
No entanto, cada nova descoberta na física gera mais perguntas. O bóson
dá massa a partículas que transmitem a força fraca. Isso determina a
natureza da referida força. Mas por que o Higgs existe na escala que
existe? Porque a força fraca é muito mais fraca do que, digamos, a força
forte, e por que essas forças, incluindo o eletromagnetismo, são muito
mais fortes do que a força da gravidade?
Os cientistas esperam que o acelerador lance luz sobre essas
questões. E, curiosamente, a matéria escura pode desempenhar um papel
nisso também. Talvez a mais interessante explicação possível de por que a
força fraca é fraca postula a existência de uma nova simetria na
natureza, chamada supersimetria, que prevê todo um novo conjunto de
partículas elementares que ainda não foram vistas.
A mais leve destas partículas poderia ser absolutamente estável, e é
uma excelente candidata para a matéria escura. Assim, se o colisor
descobrir esta partícula, pode não só desvendar o mistério da matéria
escura, como também lançar luz sobre supersimetria e unificar todas as
forças.
O nosso universo é único?
Talvez uma das questões mais fundamentais da física é se nosso universo é
único, e se as leis da física são também únicas e fixas. Será que uma
pequena mudança em apenas uma das constantes fundamentais faria tudo
desmoronar?
Estas questões são bastante inacessíveis. Afinal, só conhecemos nosso
universo, de modo que especular sobre outros pode parecer pura
metafísica. Isto, obviamente, não impediu tal especulação.
A maioria das extensões do Modelo Padrão da física de partículas
sugere que nosso universo não é susceptível de ser único. Talvez a
natureza das partículas elementares e campos que observamos pode ser
devido ao puro acaso.
O que torna esta questão potencialmente mais interessante é que podemos
obter dicas indiretas da existência de outros universos, mesmo que nunca
os observemos diretamente. Recentemente, o experimento BICEP2 no Polo
Sul alegou detectar ondas gravitacionais do universo jovem.
Infelizmente, parece que o sinal foi devido ao ruído de primeiro plano
de nossa própria galáxia. No entanto, se experimentos futuros
definitivamente detectarem esse sinal, ele poderia fornecer evidências
de um processo chamado inflação. Isso, por sua vez, além de explicar
muitas características do nosso universo observado em grandes escalas,
genericamente cria muitos outros universos. Se pudéssemos medir essas
ondas precisamente, poderíamos investigar a possível natureza da
inflação e explorar a física que levou à geração de nosso universo
observável e possivelmente outros.
Qual é a natureza do nada?
Não vamos falar aqui das muitas definições controversas do “nada”.
Apenas vamos nos referir a ele como o espaço vazio. Com a notável
descoberta recente de que o espaço vazio contém a maior parte da energia
do universo, por razões que não entendemos, esse nada ficou mais
interessante.
Esta energia está causando a expansão acelerada do universo, e irá
determinar o futuro do nosso universo. Há uma série de observações
astrofísicas em curso tentado lançar luz sobre o mistério desta “energia
escura”, como ficou conhecida, mas neste momento não estamos mais perto
de compreender a sua origem do que estávamos quando ela foi descoberta
pela primeira vez. É verdadeiramente a “energia quântica do vácuo”, ou é
associada com algum novo campo invisível que permeia todo o espaço?
Ainda, pode ser algo mais exótico.
Sem uma teoria completa da gravidade quântica, talvez fique difícil
resolver totalmente este problema, coisa que pode levar séculos. Mas
temos que continuar tentando. Nunca se sabe.
Fonte: http://hypescience.com/as-grandes-perguntas-da-ciencia-ainda-nao-respondidas
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