Ela não tem um nome muito cativante, mas a estrela SDSS J102915 +
17297 tem uma história única e enraizada nas suas origens inexplicáveis e
um tanto misteriosas.
Localizada na constelação Leo, a estrela em questão, conhecida como
estrela de Caffau, foi formada em torno de 13 bilhões de anos atrás,
tornando-se uma das mais antigas de nosso universo conhecido. No
entanto, os astrônomos ainda estão confusos sobre a forma como ela
nasceu e tem sobrevivido todo esse tempo.
Descoberta uma sobrevivente
A estrela foi avistada pela primeira através do Very Large Telescope
(“Telescópio Muito Grande”, em tradução livre), do Chile. O nome
“Estrela do Caffau” foi dado em homenagem à Elisabetta Caffau, do Centro
de Astronomia na Universidade de Heidelberg e do Observatório de Paris.
Ela também foi o principal autora de um dos primeiros artigos sobre a
tal estrela.
Como essa estrela foi descoberta?
Um censo detalhado do universo estava sendo feito quando cientistas
notaram algo diferente sobre a composição dessa estrela específica.
Estrelas são feitas principalmente de hidrogênio e hélio com uma
pequena quantidade de elementos mais pesados (metais). Estranhamente, a
estrela de Caffau tem 20 mil vezes menos metais em comparação a estrelas
típicas.
O pesquisador Hans-Günter Ludwig, que participou do estudo desta
grande descoberta, acredita que a falta de lítio é particularmente
“intrigante”. Ele sugere que a estrela pode apenas ser diferente, uma
excentricidade do universo.
O que é normal
É normal para as estrelas terem composições diferentes no que diz
respeito a quantidades de metais. Estrelas como o nosso sol, por
exemplo, classificadas como “População I”, são relativamente jovens.
Elas geralmente têm cerca de 4,5 bilhões de anos e são compostas por
algo em torno de 2 a 3% de metais.
Já as estrelas mais velhas, classificadas como “População II”, têm
algo entre 0,01% e 0,1% de metais. Estas estrelas representam os dois
tipos que somos capazes de observar.
Há uma outra população de estrelas, no entanto, da qual nós nunca
vimos nenhuma e (provavelmente) nunca veremos. As estrelas que não
possuem estes metais em sua composição são classificadas como “População
III”. No entanto, como mencionado anteriormente, isso é apenas uma
teoria, porque elas nunca foram observadas.
Mas porque elas nunca foram observadas?
Bem, porque viveram há MUITO tempo. Por causa do enorme tamanho que
os pesquisadores acreditam que elas têm, elas teriam queimado
rapidamente quando o universo estava apenas começando.
Assim, se a estrela de Caffau é de fato uma estrela da População III,
os astrônomos não têm ideia de como ela poderia ter sobrevivido tanto
tempo.
Formação da estrela de Caffau
O Big Bang resultou na criação dos primeiros elementos que
(eventualmente) formaram todo o universo. Hidrogênio, hélio e lítio
foram os principais e, como resultado, estes são o que compuseram as
primeiras estrelas.
As estrelas queimaram rapidamente e a sua pressão e calor intenso
resultou na formação de elementos tais como carbono e oxigênio. De
acordo com o período de tempo em que os cientistas acreditam que a
estrela de Caffau se formou, esses metais teriam sido necessários para
resfriar as nuvens moleculares, já que estrelas não devem ser capazes de
se formar sem estes materiais.
No entanto, não há nenhum carbono ou oxigênio presente na estrela de
Caffau. Além disso, o lítio, um elemento conhecido por ser abundante no
universo nesse momento, também está faltando na fotosfera da estrela, o
que é incomum.
Existe uma resposta possível?
Um estudante na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados
Unidos, pode ter resolvido o mistério estrelar. Nick Rufo e seu
professor, Timothy Lawlor, sugerem que a estrela não se encaixa em
nenhuma das populações estrelares anteriormente consideradas.
Em vez disso, ela estaria na fase subgigante da evolução e, portanto, seria muito maior do que o inicialmente observado.
Quando uma estrela esgota seu hidrogênio do núcleo e começa a queimar
hidrogênio em um escudo em torno de um núcleo de hélio crescente, ela
ilumina, se expande e se torna uma “subgigante”. Isso é algo que
normalmente acontece no caminho para uma estrela se tornar uma gigante
vermelha.
Rufo suspeita que, para a composição observada de lítio corresponder,
a estrela teria de ser significativamente menor em massa, o que não era
provável com base na temperatura em que se encontrava.
Além destas observações, os pesquisadores também consideram outras
variáveis, tais como a dos efeitos do assentamento gravitacional,
elemento de difusão e força radiativa. Estes teriam um impacto
significativo sobre a falta de metais presentes na estrela de Caffau.
Importância
A existência da estrela de Caffau apoia uma ideia interessante: talvez o Big Bang não seja um evento tão extraordinário assim.
Em vez disso, pode haver múltiplas explosões médias que ocorrem periodicamente.
Portanto, a estrela de Caffau pode ter existido antes da explosão que
deu origem a muitos dos objetos em nosso universo conhecido. Isso
explicaria por que sua composição não combina muito bem com as estrelas
que conhecemos e seria o ponto de partida para um raciocínio
extremamente intrigante.
No entanto, outra evidência parece refutar essa ideia.
Alguns pesquisadores acreditam que houve apenas um Big Bang (no nosso
universo observável, pelo menos). Essa explosão ocupou todos os lugares
ao mesmo tempo, porque a evidência que vemos é que tudo no universo (em
grandes escalas de distância) está se afastando de todo o resto. No
caso de múltiplos Big Bangs, então, presumivelmente, a gente veria
algumas galáxias distantes se movendo uma em direção a outra, ou, pelo
menos, uma relação mais complexa entre a distância de objetos que vemos
nas velocidades em que elas parecem estar se afastando de nós.
Desde a descoberta da estrela do Caffau, os astrônomos localizaram
outras estrelas semelhantes, o que os forçaram a repensar o cenário de
formação estelar.
Conforme os estudos dessas estrelas continuam, mais peças sobre universo e suas origens provavelmente vão aparecer pelo caminho.
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