Por mais eficaz que seja o rastreio de contactos de pessoas
doentes com covid-19, de pouco servirá para travar a disseminação da
doença se os testes de diagnóstico não forem rápidos, revela um estudo
publicado na revista Lancet.
“Se o teste de diagnóstico à covid-19 demorar três ou mais dias
depois de uma pessoa desenvolver sintomas, mesmo a estratégia mais
eficaz de rastreio de contactos não conseguirá reduzir a transmissão do vírus”, afirmam os investigadores responsáveis pela investigação divulgada na quinta-feira, citados pela agência Lusa.
Se se conseguir testagem com resultados no prazo de 24 horas com
rastreio de pelo menos 80 por cento dos contactos, o número médio de
contactos infetados por uma pessoa (conhecido como R0) pode ser reduzido
de 1,2 para 0,8, evitando 80% das transmissões do novo coronavírus.
“Este estudo reforça as conclusões de outros, mostrando que o
rastreio de contactos pode ser uma intervenção eficaz para evitar o
contágio do vírus SARS-CoV-2, mas só com uma proporção alta de contactos
e um processo rápido de testagem”, afirmou uma das principais autoras
do estudo, Miriam Kretzschmar, da universidade holandesa de Utrecht.
Uma das principais conclusões é a de que “as aplicações para
telemóvel podem permitir encontrar mais depressa pessoas que estejam
potencialmente infetadas, mas se os testes demorarem três dias ou mais,
mesmo esta tecnologia não conseguirá travar a transmissão do vírus”,
referiu.
No rastreio de contactos, é preciso encontrar todas as pessoas que
estiveram em contacto com uma pessoa infetada para poderem ser isoladas e
assim impedir mais contágio.
Para o rastreio ser eficaz, é preciso que a taxa de transmissão do
vírus traduzida no R0 seja inferior a 01, ou seja, que o número de novas
infeções provocadas por cada pessoa seja inferior a uma.
Neste estudo, o modelo matemático utilizado presume que cerca de 40%
da transmissão de vírus acontece antes de uma pessoa infetada mostrar
sintomas. O rastreio de contactos, portanto, só funciona e só consegue
manter o R abaixo de 01 se os infetados receberem o diagnóstico positivo no dia em que são testados, logo que desenvolvem sintomas.
Sem nenhuma medida de mitigação de contágio, cada pessoa infetará uma
média de 2,5 pessoas. No entanto, só com o distanciamento físico, que
reduz em 40% contactos próximos e 70% os contactos casuais, o número de
pessoas infetadas por cada doente passa a 1,2.
Os autores salientam que o modelo matemático que criaram não tem em
conta a estrutura etária da população, o que pode influenciar a proporção de casos assintomáticos,
mais comuns em crianças e jovens. O modelo também não tem em conta as
infeções nos hospitais e outras instalações de saúde, como lares de
idosos.
https://zap.aeiou.pt/controle-contagio-teste-24-horas-primeiros-sintomas-335815
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