Almoçando no refeitório do Laboratório Nacional de Los Alamos, o
físico Enrico Fermi pensava em relatórios sobre avistamento de objetos
voadores não identificados (OVNIs); de repente, levantou os olhos do
prato e perguntou: "Onde estão todos?". Algo parecido com o Paradoxo de
Fermi (a contradição entre a falta de evidências de civilizações
extraterrestres e a alta probabilidade matemática de elas existirem)
surgiu em um artigo do The Astronomical Journal: se a Via
Láctea teria 6 bilhões de planetas Terras, mas apenas 1 se parece com o
nosso (o Kepler-1649c), onde estão os outros?
O Kepler-1649c, único exoplaneta parecido com a Terra, entre mais de 4mil catalogados.
Os astrofísicos de exoplanetas da Universidade da Colúmbia Britânica,
Michelle Kunimoto e Jaymie Matthews, definiram como "padrão Terra"
planetas com tamanho entre três quartos e 1,5 vez o do nosso, orbitando
uma estrela a uma distância entre 0,99 e 1,7 vez o espaço entre nós e o
Sol. Esses critérios, aplicados em nosso sistema solar, só são atendidos
pela Terra; os candidatos que não passam por pouco são Marte (muito
pequeno) e Vênus (muito perto do Sol).
Corpos aprovados com louvor devem coalhar a Via Láctea, mas (ainda)
não temos meios eficientes para detectá-los diretamente. Para determinar
se uma estrela tem planetas a orbitá-la é preciso registrar pelo menos
três vezes o trânsito de cada um, e isso se faz através da variação do
brilho do sol em questão.
Estrelas amarelas são raras
Sóis amarelos são apenas 7% entre cerca de 400 bilhões de estrelas da
Via Láctea. O tipo mais comum é a anã vermelha, capaz de incinerar
planetas em sua órbita. Zonas habitáveis ocupariam as extremidades
desses sistemas, o que faria com que seus planetas levassem centenas de
dias para completar suas órbitas em torno da estrela. Para serem
detectados ao menos três vezes, eles precisam ser observados
continuamente por anos.
Como uma maneira de refinar a busca por candidatos a Terra 2.0 na
lista de exoplanetas encontrados, foi usado o método desenvolvido em
2018 pelo astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia, Danley Hsu.
Os planetas foram divididos em
categorias segundo tamanho e órbita. A nova classificação difere do
catálogo oficial, estruturado com os dados coletados pelo telescópio
espacial Kepler.
A ilustração mostra como o Kepler-1649c poderia ser.
O estudo estipula que, por alto, uma em cada cinco estrelas amarelas
na Via Láctea poderia ter em seu sistema uma Terra (em uma estimativa
mais modesta, a proporção cai para uma em dez). "Esse número ainda é um
pouco grosseiro, mas é mais restrito do que os estipulados em trabalhos
anteriores, que sugeriam 1 Terra para 50 sóis", reconhece Kunimoto.
Muito distante da Terra 2.0
"Os planetas realmente semelhantes à Terra não estão se escondendo; a
sensibilidade de nossos telescópios ainda não é boa o suficiente para
encontrar aqueles que são iguais à Terra", disse ao site Popular Science
o astrobiólogo da Universidade Técnica de Berlim, Dirk Schulze-Makuch.
Ele adverte, porém, que "os critérios limitados de órbita, tamanho e
tipo de estrela dizem muito pouco sobre os planetas: se eles têm
atmosferas protetoras, blindagem magnética ou água, o que é necessário
para a vida emergir". Segundo Schulze-Makuch, o maior trunfo do novo
trabalho é promover o refinamento das buscas através de instrumentos que
examinem mundos individualmente, e não por amplas varreduras, como no
método hoje empregado.
"Usando a tecnologia que temos agora, estamos a anos-luz de descobrir
uma verdadeira Terra 2.0, feita perfeitamente para sustentar vida como a
nossa", defendeu Schulze-Makuch.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/115022-estudo-mostra-por-que-e-tao-dificil-achar-planetas-iguais-a-terra.htm
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