Que par de meses o mundo está vivendo! De ter liberdade para ir e
vir, passamos à apreensão antes de mergulhar no medo e na reclusão por
conta do Coronavírus, e vimos diversos países restringirem parcial e até
completamente a circulação da população com a instauração de normativas
de distanciamento social, quarentenas e lockdowns. Pois, em
dado momento, bilhões de pessoas em todo o planeta ficaram impedidas de
sair de suas casas – e o impacto no meio ambiente é dramático.
Desaceleração global
Para se ter ideia, no que levamos de ano, as autoridades chinesas
ordenaram que o equivalente a 7% da população mundial permanecesse em
casa – e países como a Itália e a Espanha se viram obrigados a fazer o
mesmo na tentativa de frear a propagação do coronavírus e desafogar seus sistemas públicos de saúde que, em diversas localidades, entraram em colapso e registraram milhares de mortes.
Torre de Pisa
Inclusive a Índia, que conta com uma população de quase 1,4 bilhão de
habitantes, ordenou que todos permanecessem em casa, e os EUA, a maior
economia mundial, apresenta agora mesmo vários estados e cidades em
quarentenas parciais ou totais. Essas medidas, embora necessárias para
preservar a vida, já trazem graves reflexos econômicos, uma vez que
incontáveis indústrias se viram obrigadas a parar e negócios a fechar as
suas portas, resultando em alarmantes quedas nas bolsas e na perda de
emprego para milhões de pessoas.
Times Square
Por outro lado, essa desaceleração nas atividades e circulação de
gente pelo planeta vem oferecendo reflexos dramaticamente positivos para
o meio ambiente – tanto que animais silvestres que antes se limitavam a
permanecer em seus (cada vez mais reduzidos) habitats vêm sendo
flagrados explorando e passeando por cidades e locais de grande ocupação
humana mundo afora. Mas é na qualidade do ar que os maiores impactos do
isolamento estão sendo notados.
Efeitos positivos do distanciamento social
De acordo com Marco Hernandez, do site How Stuff Works,
materiais particulados identificados pela sigla PM2.5 – e que possuem
diâmetro equivalente a 3% de um fio de cabelo – contendo nitratos têm a
capacidade de, através dos pulmões, entrar na corrente sanguínea e
desencadear problemas de saúde como o câncer, acidentes vasculares
cerebrais e cardiopatias.
Formados a partir de compostos ricos em nitrogênio liberados na
atmosfera principalmente a partir da queima de combustíveis, os nitratos
classificados como PM2.5 sofreram grandes quedas na província de Hubei,
na China, após a imposição de restrições na circulação de veículos na
quarentena. Veja a seguir:
Reduções drásticas
O gráfico a seguir mostra a situação em Wuhan, local onde o vírus
surgiu, e revela que, apesar de os níveis de poluição apresentarem
tendência de queda nos últimos anos, nos primeiros meses de 2020 –
quando foram impostas as medidas de isolamento –, foram registradas
reduções recorde, especialmente na liberação de dióxido de nitrogênio,
cujas principais fontes são as plantas de produção de energia, estações
de tratamento de esgoto e os automóveis. Confira:
Fortes quedas
Ainda na Ásia, a Coreia do Sul – que contabilizou um forte aumento no
número de infectados pelo coronavírus no início de março – registrou a
maior queda nos níveis de determinados poluentes dos últimos 7 anos. E
isso que o país não impôs a reclusão total à sua população. Passando
para a Europa, na Itália, onde as restrições começaram a ser
implementadas no final de fevereiro em algumas cidades o norte do país,
os índices de dióxido de nitrogênio despencaram e, em Bergamo, uma das
localidades mais afetadas pela COVID-19 na região, a qualidade do ar
chegou a melhorar significativamente. Veja:
Os índices despencaram
Mas um dos locais onde a redução na circulação e atividades teve seu
efeito mais surpreendente foi a Índia. Segundo Marco, é comum que as
cidades do norte do país, entre elas, Nova Deli, com uma população de
perto de 30,3 milhões de habitantes, sejam cobertas por um manto de
fumaça resultante das queimadas produzidas pelos agricultores da região
no inverno. A qualidade do ar só vai melhorar um pouco na primavera,
mas, com a imposição da quarentena, o impacto vem sendo notável.
Impacto positivo notável
Brasil
No nosso país, a tendência de redução nos níveis de poluentes e
melhora na qualidade do ar foi notada em várias das capitais onde foram
instauradas restrições e normas de isolamento social. Em São Paulo, por
exemplo, foi registrada uma importante queda nos índices de monóxido de
carbono, que atualmente estão nos menores índices para a época, caindo
para 1 parte por milhão contra os 9 ppm habituais.
A região metropolitana do Rio Janeiro também registrou quedas em
virtude do isolamento, principalmente nos índices de dióxido de
nitrogênio. Para se ter ideia, estações meteorológicas no Distrito
Industrial de Santa Cruz e em Duque de Caxias apontaram reduções nas
concentrações desse composto em 77% e 45%, respectivamente, no final de
março. Curitiba, no Paraná, e Belo Horizonte, em Minas Gerais,
igualmente foram palco de diminuições importantes na quantidade de NO2
na atmosfera.
Cena atípica
É importante destacar que já se havia detectado uma ligeira tendência
de queda nos níveis de determinados poluentes no mundo – embora a
diminuição seja claramente mais acentuada agora, devido à redução de
atividade e circulação de pessoas. Além disso, não podemos nos esquecer
de que a variação nos índices de poluição no ar também é afetada por
aspectos meteorológicos, como a velocidade do vento e a temperatura
local.
Ainda assim, é inegável que as restrições impostas nos últimos meses
tiveram um grande impacto na qualidade do ar global – e possivelmente
terão efeitos positivos a saúde da população também. O interessante
seria poder medir como as quarentenas e isolamento estão afetando a
qualidade do ar no interior de residências e edifícios e que
consequências tiveram sobre quem respeitou as restrições.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114278-os-impactos-da-pandemia-do-coronavirus-na-qualidade-do-ar.htm
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