Cientistas estão a determinar a esperança de vida do maior
peixe dos oceanos com a ajuda de testes de bombas atómicas realizados
durante a Guerra Fria, entre os anos 50 e 60.
Em perigo de extinção, os tubarões-baleia são o maior peixe dos oceanos
e têm uma longa esperança de vida que sempre maravilhou a comunidade
científica. No entanto, medir a idade que conseguem atingir tem sido
complicado, uma vez que estes animais carecem de otólitos, que são
estruturas ósseas normalmente usadas para avaliar a idade de outros
peixes.
Durante os anos 50 e 60, países como os Estados Unidos, a União Soviética, o Reino Unido, a França e a China realizaram testes de armas nucleares. Segundo a Europa Press,
muitas destas explosões foram detonadas no ar a vários quilómetros de
distância. Um efeito destas explosões foi a duplicação atmosférica
temporária de um isótopo chamado carbono-14.
Este elemento radioativo é usado por arqueólogos para datar ossos
e artefactos antigos. O isótopo passou gradualmente pelas cadeias
alimentares para todos os seres vivos, produzindo uma assinatura de
carbono-14 elevada, que ainda persiste nos dias de hoje.
Este isótopo adicional também se desintegra a uma taxa constante, o
que significa que a quantidade contida no osso formado a uma certa
altura será ligeiramente maior do que a contida no osso formado mais
recentemente.
“O uso de ensaios de radiocarbono de bombas como
validação de idade para peixes de vida longa tem sido cada vez mais
aplicado a peixes e tubarões, e agora aplicamos isso, pela primeira vez,
às vértebras dos tubarões-baleia”, explicou a autora do estudo, Joyce
Ong, em declarações ao Gizmodo.
“Se sabe a idade e o tamanho de um peixe, pode calcular uma taxa de
crescimento. Este é um parâmetro crítico, porque indica a resistência de
uma espécie e a rapidez com que ela pode recuperar se ameaças como a
pesca excessiva reduzirem o tamanho da população”, explicou, por sua
vez, Mark Meekan, coautor do estudo publicado esta segunda-feira na revista científica Frontiers in Marine Science.
“No caso dos tubarões-baleia, parece que eles crescem muito lentamente
até estes tamanhos grandes. Os tubarões podem não amadurecer até terem
30 anos de idade. Isto significa que é improvável que as populações de
tubarão-baleia recuperem rapidamente se os números forem reduzidos”,
acrescentou.
Um dos espécimes analisados mostrou conclusivamente ter 50 anos de idade
na altura da sua morte. Esta foi a primeira vez que a idade de um
tubarão-baleia foi verificada sem ambiguidades. Estudos de anteriores
sugeriram que os maiores tubarões-baleia podem viver durante 100 anos.
“O nosso estudo mostra que os tubarões adultos podem atingir uma grande idade e que a longa vida útil provavelmente é uma característica da espécie. Agora temos outra peça do quebra-cabeças”, salientou Meekan.
https://zap.aeiou.pt/bombas-atomicas-vida-tubaroes-baleia-317723
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