Enquanto pelo mundo se discute se a Terra é plana, vacinas são parte de
uma conspiração da indústria farmacêutica e a crise do clima é uma trama
globalista, a ciência
continua a reunir informações de quanto gelo uma atmosfera cada vez
mais quente já fez desaparecer – e muito do que se sabe é graças aos
satélites da NASA ICESat e seu sucessor, o ICESat-2.
Os dados, como era de se esperar, não são animadores. O encolhimento
da calota do Ártico chegou à Groenlândia: sua camada de gelo está
perdendo cerca de 200 gigatoneladas de gelo por ano (uma gigatonelada
pode encher 400 mil piscinas olímpicas, segundo a NASA). Até mesmo a
Antártida, aparentemente ainda imune ao aquecimento global, está vendo
118 gigatoneladas de gelo virarem água a cada ano.
O ciclo é cruel: os lagos de água derretida absorvem mais luz solar
do que o gelo branco, e isso causa mais aquecimento e leva a mais gelo
derretido.
A água derretida das calotas captura calor, acelerando o processo.
A perda combinada de gelo da Groenlândia e da Antártida (os dois
maiores depósitos de água doce do planeta) elevou o nível do mar em 14
milímetros, entre 2003 e 2019.
A geleira de Sukkertoppen, na Groenlândia, em 1935 (acima) e 2013 (abaixo).
Centímetros captados do céu
Para os pesquisadores chegarem a esses números, foram usadas as
medições feitas pelos dois satélites, sobrepondo os dados coletados em
dezenas de milhões de pontos diferentes pelo ICESat entre 2003 e 2009 e
pelo ICESat-2 em 2019. Comparando os dois conjuntos de informações, foi
possível avaliar os danos causados na cobertura de gelo das duas
localidades.
"Se você observar uma geleira por um mês ou um ano, não aprenderá
muito sobre o que o clima está afetando-a. Agora, temos 16 anos de dados
consolidados; isso nos traz mais certeza de que o que está acontecendo
com as camadas de gelo têm a ver com as mudanças de longo prazo no
clima", explicou o pesquisador da Universidade de Washington e principal
autor do estudo. o geofísico e glaciologista Ben Smith.
O uso dos dois satélites, equipados com altímetros a laser, foi
crucial para a medição precisa da densidade e da massa das camadas de
gelo. O ICESat-2, mais sofisticado que seu antecessor, envia dez mil
pulsos de luz por segundo para a superfície terrestre. De volta ao
satélite, eles registram mudanças na escala de uma polegada (ou 2,54
cm).
"A nova análise revela a resposta dos mantos de gelo às mudanças no
clima com detalhes sem precedentes", disse o glaciologista do
Laboratório de Propulsão a Jato da NASA Alex Gardner, coautor do estudo.
Engolidos pelo mar
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da
Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que o nível do mar subiu 120
metros depois da última era glacial da Terra, há 21 mil anos, até
estabilizar-se. A Revolução Industrial mudou novamente esse quadro,
quando as emissões de CO2 dispararam; o nível do mar, então, voltou a subir.
Um estudo divulgado pela Nature Communications (revista científica revisada por pares e publicada pela Nature Research desde 2010) revela que, a partir de 2050, áreas habitadas hoje por cerca de 300 milhões de pessoas serão inundadas anualmente.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114495-nasa-usa-laser-em-satelites-para-medir-perda-do-gelo-nos-polos.htm
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