Depois de acompanharmos atônitos os efeitos do SARS-CoV-2 na Europa – e, francamente, assistirmos em completa negação
de que ela nos atingiria tão violentamente –, eis que o Continente
Americano se converteu no novo epicentro da pandemia, com a América
Latina se transformando em palco de uma verdadeira tragédia humana que,
conforme sugerem os levantamentos e curvas epidemiológicas, nem sequer
atingiu seu ápice ainda.
O mais perturbador é que, embora o número oficial de mortos já seja
bastante assustador, diversas pesquisas e verificações independentes
apontam que a quantidade de vítimas pode ser bastante maior. Tanto que
um estudo realizado pelo The New York Times – que envolveu universidades, instituições de pesquisa, agências levantamentos estatísticos e demográficos, departamentos de saúde, órgãos de registros públicos etc. de 22 países – revelou que há mais de 70 mil mortes por covid-19 sem contabilizar no mundo.
Esmiuçando números
Para realizar o levantamento, o pessoal do The New York Times levou
em consideração o número de mortes registradas este ano – seja por
covid-19 ou outras causas – e comparou com a média histórica para o
mesmo período. Para se ter ideia, só no Reino Unido, um dos países com o
maior número de óbitos pela pandemia no mundo, foram registradas mais
de 130 mil mortes desde meados de março até agora, das quais 53,3 mil
ultrapassaram a média – e 16,7 mil que nem sequer foram registradas
pelas estatísticas oficiais.
Gráficos reveladores
Na Itália, outro país duramente afetado pela pandemia, só em março
foram registradas 50% mais mortes do que a média dos últimos 5 anos – ou
o equivalente a 25 mil óbitos a mais que o normal em um único mês. Em
Nova York, nos EUA, o número de falecimentos chegou a ser 5 vezes
superior ao esperado para o período, e algo semelhante foi observado em
Guayaquil, no Equador, onde a população se viu forçada a deixar corpos
em caixões, caixas de papelão e até mesmo embalados em plásticos ou sem
qualquer proteção nas ruas devido ao colapso do sistema de saúde e
funerário.
Situação dramática no Equador
Em Lima, no Peru, a quantidade de mortes nos últimos 2 meses foi
cerca de o dobro do que a média, e aqui no Brasil, só em Manaus foram
registrados 2,8 mil óbitos em abril – o que representa o triplo da média
histórica para esse mês. Outro dado interessante levantado pelo The New
York Times foi que, mesmo em locais onde o número de óbitos não teve um
aumento muito significativo, se observaram quedas representativas em
falecimentos por acidentes de tráfego e homicídios, como vem sendo o
caso da África do Sul e mantendo a média. Só que nem todas essas mortes
extra estão entrando na conta da covid-19. Por quê?
Disparidades
As disparidades nos números e dificuldades em contabilizar as vítimas
não consistem necessariamente em erros ou tentativas de ocultar a
realidade por parte dos governos. Estamos em plena pandemia – ou no
“olho do furacão” – e levantar as informações de forma rápida e eficaz é
um grande desafio, uma vez que nem todos os organismos responsáveis por
coletar e transmitir os dados da covid-19 os têm em mãos.
O foco agora está no combate
Segundo os profissionais que trabalham com informações demográficas, é
bastante incomum que dados relacionados com a mortalidade sejam
divulgados rapidamente, portanto, apesar de todos os esforços para
reunir e liberar os números, os informes são limitados e, portanto, não
reúnem todos os óbitos. Para termos um panorama mais realista e
completo, teremos que aguardar alguns meses – até que os dados possam
ser corretamente colhidos e processados.
Novo epicentro
O fato é que, mesmo que não tenhamos acesso ao cenário completo ainda
e soframos com a subnotificação, de acordo com os levantamentos
realizados pelo The New York Times, se olharmos a média histórica de
mortes em determinados períodos do ano, fica bastante evidente que,
neste ano, o número de óbitos está bastante acima do normal – chegando a estar até 5 vezes mais elevados.
Vida que segue?
Os dados levantados incluem outras causas de morte além da covid-19,
conforme mencionamos antes. Mas é importante considerar que, em alguns
casos, a elevação no número de falecimentos por questões aparentemente
alheias à pandemia também estão relacionadas a ela, mesmo que
indiretamente – visto que, além de muitas pessoas que possuem doenças
pré-existentes estarem evitando ir a clínicas e hospitais por medo de
contrair o vírus, como o sistema de saúde de muitas localidades entrou
em colapso, esses doentes ficam impossibilitados de receber tratamento
médico adequado.
Outro fato que precisamos considerar é que o coronavírus
ainda não revelou toda a sua força na América Latina, novo epicentro da
pandemia – e onde são esperados dias muito sombrios. Se você não
acredita, considere a dramática situação do Haiti e da Guatemala, países
que, entre eles, possuem cerca de 100 respiradores apenas, ou do
México, onde os índices de obesidade, hipertensão e diabetes são
elevadíssimos.
Previsão de dias sombrios
No nosso país, como todos sabem, o combate à covid-19 se converteu em uma questão política, a população se encontra dividida sobre quais orientações seguir – obedecer ao distanciamento social ou se arriscar a sair às ruas? – e os números de infectados e mortos estão subindo a um ritmo alarmante. O Brasil não é a única nação latino-americana nessa situação e, embora não tenhamos outra escolha além de aguardar o “grosso” da pandemia passar e esperar que todos os números sejam coletados e processados para conhecer a verdadeira dimensão da tragédia, é certo que a quantidade de mortos é muito maior do que se pensa.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114527-covid-19-por-que-o-numero-de-mortos-pode-ser-muito-maior.htm
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