Em vez de procurarmos exoplanetas com uma atmosfera
semelhante à nossa, uma equipa de investigadores sugere que procuremos
um com uma atmosfera à base de hidrogénio.
A primeira vez que encontremos evidências de vida num exoplaneta
provavelmente será ao analisar os gases na sua atmosfera. Com o
crescimento do número de planetas parecidos com a Terra, em breve
poderemos descobrir gases na atmosfera de um exoplaneta que estão
associados à vida na Terra.
Mas e se a vida alienígena usar uma química um pouco diferente da nossa? Um novo estudo, publicado esta
segunda-feira na revista Nature Astronomy, argumenta que as nossas
melhores hipóteses de usar atmosferas para encontrar evidências de vida é
ampliar a nossa procura, concentrando-nos em planetas com atmosferas à base de hidrogénio.
Podemos sondar a atmosfera de um exoplaneta quando ele passa
à frente da sua estrela. Quando isto acontece, a luz da estrela precisa
de passar pela atmosfera do planeta para chegar até nós e parte dela é
absorvida à medida que passa. Olhando para o espectro da estrela e
calculando o que falta de luz, é possível conhecer em que gases consiste
a atmosfera.
Se encontrássemos uma atmosfera com uma mistura química diferente da
esperada, uma das explicações mais simples seria que ela é mantida dessa
maneira através de processos biológicos. Este é o caso da Terra.
A atmosfera do nosso planeta contém metano (CH₄), que reage
naturalmente com o oxigénio para produzir dióxido de carbono. Mas o
metano é mantido por processos biológicos.
Outra maneira de analisar isto é que o oxigénio não estaria lá se não
tivesse sido libertado do dióxido de carbono por micróbios
fotossintéticos durante o chamado grande evento de oxigenação, que
começou há cerca de 2,4 mil milhões de anos.
Os autores do novo estudo argumentam que deveríamos começar a
investigar mundos maiores do que a Terra, cujas atmosferas são dominadas
pelo hidrogénio. Estes podem não ter oxigénio livre, porque o
hidrogénio e o oxigénio formam uma mistura altamente inflamável.
O hidrogénio é a mais leve de todas as moléculas e escapa facilmente
para o espaço. Para um planeta rochoso ter uma gravidade forte o
suficiente para se manter numa atmosfera de hidrogénio, ele precisa de ser uma “superterra”
com uma massa entre duas e dez vezes a da Terra. O hidrogénio poderia
ter sido capturado diretamente da nuvem de gás onde o planeta cresceu ou
ter sido libertado posteriormente por uma reação química entre ferro e
água.
Os autores realizaram experiências de laboratório nas quais
demonstraram que a bactéria E. coli (milhões das quais vivem no
intestino) pode sobreviver e multiplicar-se sob uma atmosfera de
hidrogénio na ausência total de oxigénio. Os investigadores demonstraram
o mesmo para uma variedade de fermento.
Embora isso seja interessante, não acrescenta muito peso ao argumento
de que a vida poderia florescer sob uma atmosfera de hidrogénio. Já
sabemos de muitos micróbios na crosta terrestre que sobrevivem ao
metabolizar hidrogénio, e existe até um organismo multicelular que passa
toda a sua vida numa zona livre de oxigénio, no Mediterrâneo.
https://zap.aeiou.pt/hidrogenio-encontrar-vida-extraterrestre-322786
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