Não é segredo que o aquecimento global é um dos maiores responsáveis
por uma série de mudanças no planeta – e que o evento, desta vez, está
sendo acelerado pela ação humana. O que você talvez não saiba é que, há
cerca de 14.650 anos, a Terra enfrentou o aumento de 12 metros do nível
do mar em menos de quatro séculos. Agora, cientistas podem ter
descoberto o porquê de isso ter ocorrido.
Conhecido como “pulso de
derretimento 1A”, o acontecimento, tido como um mistério até então,
foi, aparentemente, resultado do derretimento de calotas polares, sendo
que um dos maiores desafios para pesquisadores era descobrir,
justamente, a origem dessa água toda. Jo Brendryen, da Universidade de
Bergen, na Noruega, e sua equipe se dedicaram aos estudos e chegaram a
uma conclusão: tudo veio do manto de gelo da Eurásia.
Extensões de gelo identificadas há milhares de anos.
Uma
das grandes dificuldades da pesquisa é que a datação realizada por meio
do teste de carbono 14, quando aplicado a oceanos, é que, uma vez que
os resultados se baseiam na variação causada pela ação da atmosfera
sobre o elemento e em como ele foi afetado e acumulado em amostras
recolhidas, o fundo do mar pode “enganar” as mensurações, já que as
moléculas presentes nesses locais isolados parecem muito mais velhas por
estarem “imunes” aos fatores citados. Além disso, correntes oceânicas
também são alteradas constantemente, “embaralhando” supostas certezas.
Por isso, os pesquisadores, para não ficarem perdidos em regiões abissais do conhecimento,
partiram de um consenso científico para começarem suas análises:
durante o último período glacial, uma camada de gelo se estendeu pela
Escandinávia e pelo Mar de Barents.
Pegadinha do malandro
Acha
que isso ajudou? Bem, sim e não. Uma vez que a datação de carbono
indicava que o derretimento desse manto ocorreu antes do “pulso de
derretimento 1A”, não havia como descobrir o que exatamente ocorreu. O
fato de que os elementos de amostras pareciam “mais jovens”, entretanto,
já dava boas pistas de que a fórmula da juventude
era apenas um engano proporcionado pelo fundo do mar. Aí, era preciso
achar um jeito de contornar a questão. Foi então que Jo Brendryen e seu
time se voltaram a uma caverna na China.
Como a circulação de água nesses ambientes
é maior, depositando constantemente sedimentos nas rochas, foi possível
verificar a ação dos séculos ao mesmo tempo que características
temporais foram preservadas. Logo, não seria necessário “prever”
qualquer atraso no teste de carbono, o que proporcionaria uma análise
mais assertiva.
Finalmente,
a linha de eventos foi reconstruída e a conclusão foi de que, em vez de
uma quantidade massiva de água ter surgido do nada, o que ocorreu foi,
na verdade, o desaparecimento de muito gelo
há mais de 14,6 mil anos – que, derretido, aumentou 12 metros do nível
dos oceanos, adicionando cinco ou seis metros em um século posterior.
Perguntas respondidas, perguntas feitas
Descobrir exatamente como ocorreu o movimento no mundo todo é realmente um desafio, uma vez que o nível do oceano não aumenta de maneira distribuída
ao redor do globo. Essa diferença ocorre por conta atração
gravitacional da massa de água diferente em estado sólido ou líquido. O
que se constata, a partir disso, é que alguns locais sofreram,
inclusive, uma redução da presença do mar.
Enquanto conseguimos
algumas respostas, outras dúvidas surgem. Por exemplo, como as
informações das correntes oceânicas da época e seus impactos sobre os
mantos glaciais podem dar pistas sobre nossa situação atual?
Cada camada de gelo é diferente e os detalhes locais são importantes,
mas supõe-se, a partir dos dados coletados, que um colapso igualmente
rápido na Antártica seria o pior cenário possível.
O que podemos fazer para contornar as possíveis consequências de um novo derretimento? Cenas dos próximos capítulos.
https://www.megacurioso.com.br/ciencia/114330-cientistas-desvendam-aumento-do-nivel-do-oceano-ha-14-mil-anos.htm
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