sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Esclerose múltipla associada a infeção na adolescência !

Um novo estudo identificou uma associação entre o desenvolvimento de esclerose múltipla e infeções graves durante a adolescência.


A esclerose múltipla (EM) é mais frequentemente diagnosticada entre os 20 e os 50 anos. Certos genes aumentam o risco de se sofrer desta doença do sistema nervoso central, mas os cientistas ainda estão a tentar entender o que é que a provoca.

Um antigo estudo descobriu que a pneumonia na adolescência está associada a um risco elevado de esclerose múltipla, por isso, uma equipa de cientistas decidiu investigar se outros tipos de infeção estão associados à doença.

Os autores tiveram que ter cuidado, porém, porque as infeções podem ser uma consequência da EM e não o contrário. Além disso, pode levar de cinco a dez anos, ou até mais, entre o início do processo da doença e a pessoa apresentar os primeiros sintomas, que incluem dormência e formigueiros, rigidez, dificuldade de equilíbrio, problemas de visão e fadiga.

Portanto, tiveram que tomar medidas extra para ter a certeza de que as infeções tinham ocorrido antes de qualquer manifestação de doença relacionada à esclerose múltipla.

Para o estudo, publicado na revista Brain, os autores usaram os registos de saúde de quase 2,5 milhões de pessoas nascidas na Suécia entre 1970 e 1994. Pouco mais de 4.000 foram diagnosticadas com EM após os 20 anos de idade. Entre este grupo, 19% tinham tido uma infeção diagnosticada num hospital entre o nascimento e os dez anos de idade e 14% entre os 11 e 19 anos.

Descobriu-se que a maioria das infeções antes dos 11 anos não estava associada a um diagnóstico posterior de EM. Em contraste, as infeções diagnosticadas num hospital (indicando que são relativamente graves) entre as idades de 11 e 19 anos foram consistentemente associadas a um risco elevado de desenvolver EM.

Nem todos os tipos de infeção foram associados à EM subsequente, mas uma descoberta surpreendente é que as infeções do sistema nervoso central aumentaram o risco de EM de forma mais notável. Isto faz sentido, pois os cientistas acreditam que a inflamação no sistema nervoso central pode iniciar o processo autoimune que causa a esclerose múltipla.

As infeções respiratórias na adolescência também foram associadas à EM, aumentando o risco em 51%. Os autores acreditam que, em alguns casos, a infeção e a inflamação nos pulmões podem levar à ativação imunológica noutras partes do corpo, incluindo o sistema nervoso central, aumentando assim o risco de inflamação nesse local.

Isto pode explicar como uma infeção pulmonar pode iniciar o processo da doença de EM. Em alternativa, o agente infecioso pode ter uma influência mais direta no cérebro.

A infeção pelo vírus Epstein-Barr (VEB) está, há muito tempo, associada à esclerose múltipla, por isso era importante garantir que os resultados não incluíam as infeções por VEB.

Após a exclusão das pessoas que já tiveram a forma aguda da infeção por VEB, conhecida como febre glandular, os resultados para as demais infeções permaneceram, enfatizando a importância de vários tipos de infeção na adolescência como riscos para EM.

Para ter ainda mais certeza de que as infeções na adolescência provavelmente antecederam o desenvolvimento assintomático inicial de EM, repetiu-se a análise, mas olhou-se apenas para EM diagnosticada após os 25 anos.

O risco elevado de EM associada a infeções na adolescência manteve-se nas infeções do sistema nervoso central e infeções pulmonares. Houve um mínimo de cinco anos entre a infeção e o diagnóstico de esclerose múltipla — e geralmente mais — indicando que a doença progride lentamente até que haja dano suficiente no cérebro para que os sintomas de esclerose múltipla se desenvolvam.

Período de suscetibilidade elevada

Este estudo fornece evidências adicionais de que a adolescência é um período de elevada suscetibilidade a exposições associadas ao risco de EM e que pode haver muitos anos entre a exposição e o diagnóstico.

Estes resultados ajudam a entender melhor os tipos de exposições que podem aumentar o risco de EM. Pode valer a pena considerar a esclerose múltipla como um diagnóstico potencial em alguém que apresenta sintomas neurológicos, se teve uma infeção grave na adolescência.

O próximo passo será investigar se as pessoas que são geneticamente suscetíveis ao desenvolvimento de EM são mais propensas a ter uma reação imunológica mais pronunciada a infeções, aumentando a probabilidade de internamento hospitalar.

Vários, mas não todos os tipos de infeções estão associados à EM, particularmente aquelas que podem causar inflamação no sistema nervoso central. Apenas algumas pessoas com infeções relativamente sérias na adolescência desenvolverão EM (na maioria dos casos, muito menos do que 1%), pois outros fatores, incluindo suscetibilidade genética, também são necessários para o desenvolvimento da doença.

https://zap.aeiou.pt/esclerose-multipla-infecao-adolescencia-429883

 

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