sábado, 19 de setembro de 2020

Os sinais de vida em Marte podem ter sido “apagados” por ácidos

Fluidos ácidos podem ter destruído há muito as evidências de vida biológica passada dentro da argila marciana – possivelmente explicando, assim, por que é tão difícil encontrar evidências de vida antiga no Planeta Vermelho.


Em pouco mais de uma década, amostras de solo marciano recolhidas pelo rover Mars Perseverance deverão regressar à Terra após serem recuperadas pelos primeiros humanos a pisar Marte. Os cientistas estão animados, mas podem ter de moderar as suas expetativas.

Um novo estudo revela que fluidos ácidos – que antes fluíam na superfície do planeta vermelho – podem ter destruído as evidências biológicas escondidas nas argilas ricas em ferro de Marte.

Para chegar a essa conclusão, investigadores da Cornell University e do Centro de Astrobiologia de Espanha realizaram simulações que envolviam argila e aminoácidos. “Sabemos que fluidos ácidos fluíram na superfície de Marte no passado, alterando as argilas e a sua capacidade de proteger os orgânicos”, explicou Alberto G. Fairén, em comunicado divulgado pelo Phys.

Os cientistas explicam que a estrutura interna da argila é organizada em camadas, nas quais normalmente encontraríamos evidências bem preservadas de vida biológica, como lipídios, ácidos nucléicos, peptídeos e outros biopolímeros.

No laboratório, a equipa simulou as condições da superfície marciana tentando preservar um aminoácido chamado glicina num pedaço de argila que tinha sido previamente exposto a fluidos ácidos. “Usamos glicina porque poderia degradar-se rapidamente sob as condições ambientais do planeta”, explicou Fairén. “É um informador perfeito para nos dizer o que estava a acontecer dentro das nossas experiências.”

Os investigadores expuseram a argila infundida com glicina à radiação ultravioleta semelhante à de Marte e os resultados mostram fotodegradação substancial das moléculas de glicina embutidas na argila. Assim, a exposição a fluidos ácidos apagou o espaço entre as camadas, transformando-o em sílica gelatinosa.

“Quando as argilas são expostas a fluidos ácidos, as camadas rompem-se e a matéria orgânica não pode ser preservada. São destruídas”, disse Fairén. “Os nossos resultados neste artigo explicam por que a busca por compostos orgânicos em Marte é tão difícil.”

O rover Perseverance da NASA foi lançado em 30 de julho e deve pousar na cratera Jezero de Marte em fevereiro. O rover colherá amostras de solo do Planeta Vermelho, que serão enviadas de volta para a Terra até 2030. Embora a missão ainda seja importante para potenciais futuros colonos de Marte, as descobertas do novo estudo podem ser um retrocesso na nossa capacidade de detetar a presença de qualquer vida antiga em Marte.

Este estudo foi publicado este mês na revista científica Scientific Reports.

https://zap.aeiou.pt/os-sinais-vida-marte-podem-ter-sido-destruidos-acidos-347100

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