Uma nova análise dos dois principais grupos de micróbios que
vivem abaixo da superfície da Terra acaba de revelar que o seu caminho
evolutivo é muito mais curioso do que imaginávamos.
Nos primeiros dois mil milhões de anos, não havia oxigénio na
atmosfera da Terra. Depois de o ar se ter modificado, nem todas as
formas de vida se conseguiram adaptar e muitos micróbios recuaram para
as partes menos oxigenadas do planeta.
Patescibacteria e DPANN são dois grupos ubíquos destes micróbios de subsuperfície – bactérias e arqueas, respetivamente – que parecem ter genomas muito simples. Segundo o Science Alert,
muitos cientistas suspeitam de que, sem a capacidade de respirar
oxigénio, estes micróbios necessitam de interações complexas com outros
organismos.
Uma nova investigação, cujo artigo científico foi recentemente publicado na Frontiers in Microbiology,
indica que, em vez de terem uma dependência simbiótica de outros grupos
principais de organismos, a maioria das Patescibacteria e DPANN vivem
como células completamente livres.
“Estes micróbios são exemplos especiais e emocionantes da evolução
inicial da vida”, disse Ramunas Stepanauskas, cientista no Bigelow
Laboratory for Ocean Sciences, nos Estados Unidos. Estes microrganismos
“podem ser remanescentes de antigas formas de vida que se esconderam e prosperaram na subsuperfície da Terra durante milhares de milhões de anos.”
Esta investigação analisou cerca de 5.000 células microbianas
individuais de 46 locais de todo mundo, incluindo um vulcão de lama no
fundo do Mar Mediterrâneo, fontes hidrotermais no Pacífico e minas de
ouro na África do Sul.
As observações genómicas e biofísicas de uma única célula não apoiam a
visão predominante de que Patescibacteria e DPANN são dominados por
simbiontes “O seu potencial de codificação divergente, genomas e
tamanhos de células pequenos podem ser resultado de um metabolismo energético primitivo ancestral que depende exclusivamente da fermentação”, escreveram os autores do artigo.
A fermentação é uma opção metabólica, mas este processo costuma ser
menos eficiente do que a respiração. A fermentação produz apenas 2 ATP
por glicose em comparação com os 38 ATP por glicose pela respiração
aeróbica. Isto significa que este tipo de metabolismo coloca os
organismos na via metabólica lenta.
Com base neste novo estudo, estes dois grupos não contêm nenhum traço
do que é conhecido como cadeia de transporte de eletrões, um processo
metabólico que produz energia despejando eletrões no oxigénio. Os seus
truques de sobrevivência relativamente simples e potencialmente antigos
não precisam deste processo.
Os dois grupos também não mostraram evidências de respiração e as
amostras estavam por conta própria. Além da fermentação, estes grupos
microbianos têm poucas – ou nenhuma – outra maneira de produzir energia.
“Patescibacteria e DPANN são antigas formas de vida que podem nunca ter aprendido a respirar“, disse Stepanauskas.
https://zap.aeiou.pt/microbios-antigas-formas-vida-343682
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