A vacina contra a tuberculose ou vacina BCG surge como uma
nova esperança contra a Covid-19, sendo apontada em vários estudos como
possível arma para combater o coronavírus. Uma médica e investigadora
búlgara dá mesmo o exemplo de Portugal, onde fez parte do Plano Nacional
de Vacinação, para reforçar a ideia, em oposição a Espanha, onde nunca
foi dada em massa à sua população.
Um artigo
publicado na revista científica Science, intitulado “Can a century-old
TB vaccine steel the immune system against the new coronavirus?”,
alertou as antenas do mundo para a vacina BCG (Bacillus
Calmette-Guérin), usada contra a tuberculose, como uma possível arma
contra a pandemia de Covid-19.
Esta vacina quase 100 anos – foi desenvolvida em
1921 por Albert Calmette e Camille Guérin – tem “propriedades
anti-infecciosas”, sendo utilizada, nomeadamente, “contra reincidências
do cancro da bexiga”, como destaca a TSF, com base no que dizem diversos investigadores.
As vacinas costumam despoletar “respostas imunológicas
específicas a patogénicos determinados”, mas no caso da BCG acredita-se
que também pode “aumentar a capacidade do sistema imunitário de lutar contra outros patogénicos” e não apenas contra a bactéria que provoca a tuberculose. Esta foi a conclusão de um estudo feito na Guiné Bissau pelos investigadores dinamarqueses Peter Aaby e Christine Stabell Benn.
Aaby e Benn concluíram que a BCG preveniu cerca de 30% das infecções
por qualquer patogénico conhecido, nomeadamente vírus, no primeiro ano
após ter sido ministrada. Mas as conclusões mereceram reparos da
Organização Mundial de Saúde.
De qualquer modo, outros estudos têm reforçado que a BCG pode ter benefícios para o reforço do sistema imunitário
– note-se que na Covid-19, é a resposta “inflamatória” do sistema
imunitário ao vírus que, geralmente, provoca as complicações que acabam
por matar os pacientes.
Uma investigação de um especialista em doenças infecciosas do Centro
Médico da Universidade holandesa Radboud, Mihai Netea, concluiu que a
BCG pode despoletar o que ele apelida de “imunidade treinada”. Numa pesquisa
de 2018, Netea e a sua equipa concluíram que a vacina BCG “protege
contra uma infecção experimental com forma enfraquecida do vírus da
febre amarela”.
Este estudo de Netea inspirou o Instituto Max Planck para a Biologia Infecciosa
a iniciar um ensaio com pessoas idosas e profissionais de saúde com uma
versão geneticamente modificada da BCG que ainda não foi aprovada
contra a tuberculose, como relata a Science.
Na Austrália, a Universidade de Melbourne também está a fazer uma
pesquisa com profissionais de saúde seguindo a mesma ideia. E no Reino
Unido, a Universidade de Exeter segue a mesma tese para testar a vacina
em idosos.
“Espanha severamente afectada, enquanto Portugal vacina os filhos desde o nascimento”
Para lá dos estudos, a médica Lyubima Despotova, presidente da
Sociedade para os Cuidados Paliativos da Bulgária, olha também para os
números da pandemia e para a forma como o coronavírus se está a propagar pelo mundo,
revelando-se mais letal em certos países do que noutros. Ela acredita
que isso pode estar relacionado com a maior disseminação ou não da
vacina BCG nas populações.
“Se olharmos para o mapa das políticas reais dos países na
actualidade, o mapa da Europa, bem como a crescente epidemia nos Estados
Unidos [onde a vacina nunca foi dada em massa], sobrepõem-se
completamente ao mapa das políticas de vacinação nacionais. Os países que abandonaram a vacina contra a tuberculose (BCG) há décadas estão, actualmente, no meio de uma epidemia e são severamente afectados“, analisa a especialista em medicina geral em declarações divulgadas pela TSF.
“Há alguns dias, foi publicado um mapa da Alemanha, detalhando o desenvolvimento da Covid-19 e existe uma diferença significativa
entre a antiga Alemanha Oriental e a antiga Alemanha Ocidental. A
Alemanha Oriental é até três vezes menos afectada. E, novamente, há uma coincidência entre o uso massivo de BCG
na antiga Alemanha de Leste, RDA e a Alemanha Federal que, nos anos
noventa, deixou de a aplicar”, acrescenta Lyubima Despotova.
A médica dá ainda um exemplo mais próximo, frisando que Espanha, onde
a BCG nunca foi dada em massa à população, está a ser “severamente
afectada, enquanto o vizinho Portugal vacina os seus filhos desde o nascimento até aos 12 anos
de idade”. Lyubima Despotova acredita que “essa é a diferença” para o
facto de os dois países estarem a viver situações muito distintas.
Em Portugal, a vacina BCG fez parte do Plano Nacional de Vacinação desde que este foi implementado, em 1965, até 2017, sendo administrada a grande parte das crianças logo após o nascimento. Desde Janeiro de 2017,
deixou de integrar a vacinação universal face à baixa incidência de
tuberculose em Portugal. Apenas passaram a ser vacinadas com BCG “as
crianças que pertencem a grupos de risco” para esta doença ou “as que
vivem numa determinada comunidade, com uma elevada incidência da
doença”, como explica a Direcção Geral de Saúde.
Sobre a vacina BCG, Lyubima Despotova ainda destaca a diferença entre
as estirpes que são usadas nos diferentes países. As estirpes “búlgara,
japonesa, brasileira e russa são todas muito semelhantes”, “são estirpes do tipo antigo, estáveis há décadas“, nota, lembrando que são países onde há menor incidência de Covid-19.
“A Bulgária continua a ser o único país no mundo que apoia a
imunização com um processo de revacinação” com BCG, refere ainda Lyubima
Despotova.
Fonte: https://zap.aeiou.pt/vacina-bcg-contra-covid-19-portugal-317315
Sem comentários:
Enviar um comentário