Sheldrake na fogueira
Quando o biólogo inglês Rupert Sheldrake publicou o livro, A New
Science of Life (Uma nova ciência da vida), apresentando suas ideias
sobre campos mórficos e ressonância mórfica, a obra foi recebida de
maneira contrastante pelas duas principais revistas científicas da
Inglaterra.
Foi apontada como “uma importante pesquisa científica” pela New
Scientist e ao mesmo tempo qualificada pela Nature como sendo “a melhor
candidata à fogueira em muitos anos”.
A hipótese do centésimo macaco
Imagine duas pequenas ilhas tropicais A e B, completamente isoladas.
Ambas possuem uma pequena população de macacos da mesma espécie e com hábitos alimentares muito parecidos.
Raízes e frutas fazem parte de seu cardápio diário.
Numa maré enchente a água do mar invadiu o refeitório dos moradores da ilha A, o pequeno bosque à beira-mar em que viviam.
Casualmente a força da ressaca expôs várias amostras de um tipo de
raiz que tanto apreciavam e as deixaram completamente livres da terra.
Na maré vazante, voltando ao refeitório os macacos descobriram que o
sabor de seu trivial alimento melhorou de forma pronunciada.
Livres da terra e ainda levemente salgadas aquelas raízes transformaram-se em iguarias.
Com isso, usando sua inteligência, adquiriram o hábito de caminhar
alguns metros até a praia apenas para lavar e também temperar seu
alimento.
Hábito que passou a ser imitado por todas as famílias daquela população.
Porém, quando o centésimo macaco dessa ilha A dominou completamente a técnica, espontaneamente na ilha B, e sem a influência de nenhuma maré, a prática surgiu como por encanto.
Um macaco muito esperto resolveu, espontaneamente, caminhar até a praia lavar e temperar seu alimento.
Como isso aconteceu? Se não houve nenhuma forma de comunicação convencional entre as duas populações?
Seria uma simples coincidência?
Será que esse conhecimento adquirido pelos habitantes da ilha A — lavar as raízes na água do mar antes de comê-las — simplesmente se incorporou aos hábitos da espécie?
Ou existem telepatas entre os habitantes?
Cristais e moléculas
Telepatia à parte, o mesmo se dá com moléculas e cristais.
Quando um novo composto químico é criado, sua forma cristalina é obtida em laboratório com certa dificuldade.
Entre tantas possibilidades geométricas de disposição das moléculas
para formar cristais uma forma X é assumida, em detrimento de todas as
outras, e algumas porções desse cristal são obtidas.
Até aí nada de fantástico.
No entanto, quando uma certa quantidade dessa substância é
cristalizada nesse formato X em um laboratório em Zurique, por exemplo,
espontaneamente essa mesma geometria X é adotada pelo composto em
laboratórios similares localizados em outras partes do mundo.
Ficou “mais fácil” para esse composto cristalizar depois que a forma X
foi assumida por um determinado número de moléculas que fariam aí o
papel do centésimo macaco.
Claro que muitos pesquisadores poderiam argumentar sobre a
possibilidade de alguma contaminação atmosférica criada por cristais
semente, e até a contaminação de correspondências e/ou de visitantes de
um laboratório que tenha cristalizado o composto na forma X, etc.
No entanto, ainda não foi dado um parecer definitivo sobre o caso.
Duas populações de ratos de mesma idade e geneticamente semelhantes
são isoladas e tratadas de forma similar em ambientes controlados.
Coloca-se em meio a população A um pequeno obstáculo para se chegar ao alimento (que é obviamente inodoro).
Um labirinto.
Sem a artimanha de usar o faro na solução do problema, os roedores
devem descobrir o caminho — e resolver o labirinto — para chegar até o
alimento.
Depois de algumas tentativas e erros, acabam casualmente descobrindo o caminho.
Esse processo é cronometrado.
Adivinhem o que acontece depois?
Isso mesmo.
Depois que um certo número de roedores da população A resolveu o
labirinto, a solução do mesmo problema na população B se tornou muito
mais rápida.
Porquê?
Será que aquilo que já foi aprendido por um certo número de indivíduos fica muita mais fácil de ser aprendido?
Numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África os resultados parecem apontar nessa direção.
Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram duas ilustrações (1 e 2)
com imagens ocultas para um contingente de pessoas que não conheciam
suas respectivas “soluções”.
Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua “resposta” foram
transmitidas pela TV— à revelia dos entrevistados — de forma que o
contingente de pessoas que aprendessem a solução da figura 2 aumentasse
significativamente.
Verificou-se que o índice de acerto na segunda amostragem subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1.
Fora feitas experiências similares apontando que, por exemplo, o
aprendizado do código Morse original é muito mais rápido do que um
código de comunicação similar (e até muito mais intuitivo) mas que não é
conhecido por tantas pessoas no mundo.
A hipótese de Sheldrake
Sem dúvida a proposta de Sheldrake caracteriza uma das mais ousadas e
instigantes ideias científicas da atualidade: a hipótese dos campos
mórficos.
Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se
estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os
sistemas do mundo material.
Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos,
organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas
solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um
campo mórfico específico.
São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, muito mais que um simples conjunto de partes.
Embora possam se fazer uma comparação aos campos magnéticos da
física, no entanto, não se trata de transmissão de energia através do
espaço-tempo, mas sim de informação.
É isso que mostra o exemplo dos macacos.
Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos
agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência
que passa a ser compartilhado por toda a espécie.
E esse processo de coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de “ressonância mórfica”.
É através dela que as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva.
Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma
espécie teria feito com que a nova técnica chegasse à ilha “B”, sem que
para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de
informações.
No caso da nova substância química sintetizada em laboratório – diz
ele -, “não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de
como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da
molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou
pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas
possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de
cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico
passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos
primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de
cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E
quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que
aconteça novamente em experimentos futuros”.
Com afirmações como essa, não é de estranhar, que a hipótese de
Sheldrake tenha causado tanta polêmica e desconforto na comunidade
científica. Principalmente entre os biólogos, cuja a corrente
majoritária preconiza a atividade dos organismos vivos à interação
físico-química entre moléculas e faz do DNA uma resposta definitiva para
os mistérios do fenômeno vital.
Porém, nas palavras de Sheldrake:
“A realidade é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista”.
Mesmo concordando com essa visão progressista da ciência, é importante não perdermos o foco do que é ou não científico.
A ressonância mórfica parece ser uma cornucópia mágica que tanto pode
abrir um campo completamente novo na ciência, quanto abrigar todo o
tipo de crendice pseudocientífica; incluindo aquelas que, não apenas
ambicionam o acesso ao inconsciente coletivo, mas que pretendem também o
acesso ao número do nosso cartão de crédito.
Mas, isso já é assunto para outro artigo.
Fonte: http://hypescience.com/a-ressonancia-morfica-e-melhor-canditada-a-fogueira-em-muitos-anos/
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