Pela primeira vez, bactérias responsáveis pela doença de Lyme foram detectadas nestes animais.
Fonte: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/cientistas-alertam-para-risco-de-saude-publica-na-caca-de-javalis-1690974
Recolha de carraças em javalis abatidos em montarias
Investigadores portugueses alertam para os riscos de saúde pública na
caça aos javalis, considerados reservatórios potenciais das bactérias
responsáveis pela doença de Lyme, que é transmitida pelas carraças e
causa fadiga generalizada, dores de cabeça, dores musculares, febre ou
até paralisia facial, entre outros sintomas. Este alerta resulta da
detecção em javalis, pela primeira vez a nível mundial, dessas bactérias
por uma equipa do Centro de Investigação e de Tecnologias
Agroambientais e Biológicas (CITAB), da Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro (UTAD), e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical
(IHMT), da Universidade Nova de Lisboa.
Dados da Organização Mundial da Saúde e do
Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças indicam que, nos
últimos 20 anos, foram detectados na Europa mais de 360 mil casos da
doença de Lyme (ou borreliose de Lyme), que afecta o sistema nervoso
central, entre outros sistemas e órgãos, com sintomas semelhantes aos da
esclerose múltipla e até da fibromialgia.
“A infecção ocorre
através da mordedura de uma carraça infectada que habita áreas
florestadas. Por exemplo, durante a caça ao javali, assim que o animal é
morto, a carraça procura imediatamente um novo hospedeiro”, explica
Maria das Neves Paiva Cardoso, do CITAB, citada em comunicado da UTAD
divulgado esta terça-feira.
Os cientistas alertaram para o “risco
elevado de saúde pública”, não só para os caçadores mas também para as
pessoas que trabalham ou efectuam actividades de lazer ao ar livre em
espaços agro-florestais. Por isso, para evitar o contágio, os cientistas
recomendam que os caçadores manipulem os animais com luvas, coloquem as
meias por fora das calças e, quando chegam a casa, verifiquem se têm
carraças no corpo, pedindo nomeadamente a uma outra pessoa que os
examine. Já os cães devem estar desparasitados externamente e utilizar
coleiras repelentes.
“Outro problema é que, depois do leilão [dos
animais abatidos], os caçadores transportam o javali dentro do carro,
que, muitas vezes, é a viatura da família. As carraças vão ficar no jipe
e podem lá sobreviver durante vários meses”, afirmou a investigadora.
Considerado
“inédito, o estudo revelou a presença de ADN das bactérias em três dos
90 javalis analisados. “Os dados agora conhecidos são muito promissores e
um estímulo para prosseguir a investigação da borreliose de Lyme, de
modo a conhecer-se mais sobre o modo de transmissão da bactéria aos
humanos e animais domésticos e selvagens, e com vista à redução dos
riscos para a saúde pública”, referiu por sua vez Maria Luísa Vieira, do
IHMT. Esta descoberta, salientou esta investigadora, “era perseguida há
anos, e sem sucesso, por várias equipas de investigadores
estrangeiros”.
“A borreliose de Lyme é uma doença subdiagnosticada
no país e por isso pouco reportada”, informou ainda Maria Luísa Vieira.
Em Portugal, o diagnóstico de referência da doença faz-se apenas no
IHMT e no Instituto Nacional de Saúde, em Lisboa.
Fonte: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/cientistas-alertam-para-risco-de-saude-publica-na-caca-de-javalis-1690974
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